quinta-feira, dezembro 22, 2005

terça-feira, dezembro 20, 2005

A oportunidade chinesa

A China das ameaças é também a China das oportunidades. É preciso não voltar as costas a essas oportunidades…

Ano do Macaco

Embora estejamos no ano do Galo, fica a ideia (à distância de um clic).


terça-feira, dezembro 06, 2005

Sugestão de leitura


O Palácio dos Prazeres Celestiais
O enredo desenvolve-se na China, nos finais do séc. XIX. Os estrangeiros residentes na cidade de Shishan são surpreendidos pelas convulsões da revolta dos Boxers, uma brutal rebelião dos camponeses chineses contra a colonização estrangeira e a submissão da dinastia Manchu à dominação europeia. Será neste sanguinário pano de fundo que esta imponente saga nos irá narrar o sensual caso amoroso de Henry Manners, um agente secreto Vitoriano, com Helen Delamere, a bonita filha de um comerciante local, educada num convento. Nesta cidade, a vida social dos estrangeiros gira em redor de Dr. Edward Airton, um compassivo médico escocês que dirige um hospital e uma missão. Mas o seu papel não é apenas este. Tendo-se tornado o oponente filosófico do Mandarim, um omnipotente funcionário local, o Dr. Airton faz a ponte cultural entre o Oriente e o Ocidente. E claro, há também o “Palácio dos Prazeres Celestiais”, o mais célebre bordel da cidade, que tem um papel central na vida dos residentes, tanto dos expatriados como dos locais. Localizado mesmo ao lado da praça das execuções, a patroa é a Mãe Liu, cujo filho, Ren Ren, se distingue pelo seu sadismo. No entanto, à medida que a rebelião vai passando de simples rumores a uma realidade cada vez mais assustadora, os habitantes Ocidentais de Sishan vêem-se compelidos a colocarem-se nas intrépidas mas amorais mãos de Manners. Tudo o resto está no livro...

Postal Ilustrado

Uma vista sensacional sobre Hong Kong. A inigualável fusão da tradição com a modernidade, a confluência do Oriente com o Ocidente, numa cidade dinâmica e vibrante

quarta-feira, novembro 23, 2005

O acordo têxtil sino-americano


No passado dia 8 de Novembro, ao fim de três meses de febris negociações, a China e os Estados Unidos da América assinaram um compromisso sobre o comércio de têxteis e vestuário, que entrará em vigor de Janeiro de 2006 até ao final de 2008. Neste período, a China compromete-se a limitar as exportações de 11 categorias de vestuário e 10 tipos de têxteis, não podendo exceder um aumento de 10% em 2006, 12,5% em 2007 e 15 a 16% em 2008. A indústria têxtil americana, como é óbvio, aplaudiu o acordo por representar uma lufada de ar fresco num sector asfixiado pelas fortes importações vindas da China. Desde Janeiro do presente ano, com o fim do sistema de quotas imposto pelo Acordo sobre Têxteis e Vestuário (1995), que as exportações chinesas registaram um aumento de 50%, representando mais 17,7 mil milhões de dólares de volume de negócios, provocando a falência a 19 unidades industriais e o despedimento de 26000 trabalhadores. Para se ter uma ideia deste fenómeno, nos primeiros cinco meses do ano entraram mais 800 milhões de peças de vestuário naquele país. Por este motivo, os industriais reclamam o accionamento das cláusulas de salvaguarda no âmbito da Organização Mundial de Comércio (OMC), devido a “desequilíbrios de mercado”, o que aliás se tem verificado de forma unilateral pelos americanos.
Os têxteis sempre foram uma questão cálida nos grandes banquetes da diplomacia comercial por se tratar de um sector com elevada incorporação de mão-de-obra, portanto sensível ao domínio social. Por inúmeras vezes o tema conseguiu escapar à mesa das negociações, por habilidade dos países mais desenvolvidos, enquanto, por exemplo, as questões de propriedade intelectual encontraram sempre espaço para serem discutidas. A diferença é que as matérias em causa são para o interesse de mundos diferentes.
A “administração” mundial do comércio têxtil iniciou-se com o acordo Multifibras em 1974, conhecido pela sigla “MFA”, embora já na década de 60 fossem assinados os tratados de Curto e Longo Prazo para regular as exportações de algodão. O grande objectivo passava por tentar acabar com os arranjos bilaterais e forçar o sector a enquadrar-se nas normas do General Ageement on Tariffs and Trade (GATT). Dez anos depois, a China, apesar de não ser membro do GATT, adere ao referido acordo e quadruplica em poucos anos o volume das suas exportações. Em 1994, com o fim das negociações comerciais em Punta del Este, no Uruguai, conhecidas por “Uruguay Round”, foi decidido extinguir-se com o Acordo Multifibras. Aliás, sempre combatido por os países em desenvolvimento, dado que o sistema de quotas é contrário aos dispositivos fundamentais do GATT. Nessa altura criou-se o denominado Acordo sobre Têxteis e Vestuário, que em quatro fases, até ao final de 2004, daria por terminado o período de entraves comerciais. A China ao entrar em 2001 na Organização Mundial de Comércio (OMC), sucessora do GATT, beneficiou do clima contratual em curso. Percebe-se, portanto, que a tendência internacional era para uma crescente liberalização do sector, como é defendida pela doutrina do liberalismo económico. No entanto, os países mais desenvolvidos têm vindo a encontrar soluções para a protecção das suas indústrias domésticas. É isto o que os Estados Unidos têm procurado fazer, contrariando o espírito multilateral acordado no âmbito da OMC. Neste sentido, o tratado agora firmado entre chineses e americanos é uma cartada importante no apaziguamento das dissensões mercantis, talvez das mais complicadas dos últimos anos. Interessa, no entanto, ressalvar algumas particularidades, inter alia, do actual compromisso, que não é manifesto à primeira vista. Dizem os especialistas que esta convenção é do tipo “win-win”, com amplos privilégios para ambos os lados. Mas é realmente assim? O que se poderá esconder na burocracia da mesa de negociações? Primeiro de tudo, poderemos questionar a razão de tanto proteccionismo americano numa área de negócio que representa apenas 6% do total do comércio bilateral. Numa economia tão dinâmica e abundante em sectores de elevado valor acrescentado parece desregrada a preocupação num sector que os Estados Unidos poderão conceder à China, segundo os princípios ricardianos. Como dizia, recentemente, o ministro do comércio chinês, Bo Xilai, “devido às baixas margens de lucro, precisamos de exportar 800 milhões de camisolas para podermos comprar um Airbus A380”. Também não faz sentido que os americanos aproveitem a abertura chinesa para actuar no grande mercado asiático, e não queiram sacrificar nenhum sector interno. Além do mais, os ganhos do comércio têxtil chinês são em grande parte retidas por multinacionais americanas a operar no Império do Meio. As contas mostram que os importadores ficam com 90% dos lucros, enquanto os produtores chineses com apenas 10%. Isto leva-nos a pensar que são outras as questões por detrás das intenções americanas. Em parte, poderá estar a necessidade de mostrar ao povo americano a imagem de um George W. Bush preocupado com sectores tradicionais da economia estado-unidense; por outro, terá a haver com a geopolítica americana. O controlo da china sobre o sector têxtil e vestuário asfixiou outras economias de países em desenvolvimento com quem o governo de Washington mantém interesses económicos e militares. Os Estados Unidos ao deixarem de oferecer o seu mercado interno como contrapartida a esses países, perdem poder negocial. Outra razão, ainda, terá a haver com a intenção de usar o pretexto têxtil para obrigar a China a aumentar o Yuan, a poucos dias de Bush visitar Pequim.
O que é certo é que, enquanto os americanos encontram soluções para barrar as exportações chinesas, a China abriu a sua economia aos interesses internacionais em sectores tão importantes como as telecomunicações e reduziu gradualmente as tarifas aduaneiras. Na China trabalham directamente no sector têxtil e vestuário cerca de 2 milhões de pessoas, e mais 20 milhões em áreas adstritas, o que confere ao problema uma dimensão social que os americanos não querem ver. O rendimento per capita americano é 40 vezes superior ao chinês.
Apesar de tudo, o acordo poderá trazer alguns benefícios para os produtores chineses dado que implementará uma disciplina alfandegária nas fronteiras americanas. É importante para os exportadores chineses saberem com o que contam num país habituado a praticar actos unilaterais e arbitrários. Além disso, a travagem de exportações vindas da China poderá revelar-se uma falsa questão. Muitos empresários, com fortes ligações em toda a região asiática, não terão dificuldade em deslocar a produção para os países vizinhos. Isto significa que a questão têxtil é um dado incontornável e que o presente acordo funciona apenas como um paliativo que irá adiar o problema. Como diz o académico Peter Kilduff, o acordo provocará “um efeito de balão”; ao apertar-se de um lado, a pressão é transferida para outro lugar.

Jorge Tavares Silva

Publicado no Jornal de Negócios de 22 de Novembro de 2005

segunda-feira, novembro 21, 2005

Os chineses são pequenos?

Diz-se com frequência que os chineses são um povo de estatura pequena. Acontece que as estatísticas mostram que têm uma altura média superior à altura média, por exemplo, dos portugueses.

Mais um passo no espaço

domingo, outubro 23, 2005

Sabedoria chinesa

Um sujeito estava a colocar flores no túmulo de um parente, quando vê um chinês a colocar um prato de arroz na lápide ao lado.
Ele vira-se para o chinês e pergunta:
- Desculpe, mas o senhor acha mesmo que o defunto virá comer o arroz?
E o chinês responde:
- Sim, quando o seu vier cheirar as flores!!!


"RESPEITAR AS OPÇÕES DO OUTRO, EM QUALQUER ASPECTO, É UMA DAS MAIORES VIRTUDES QUE UM SER HUMANO PODE TER."

"AS PESSOAS SÃO DIFERENTES, AGEM DIFERENTE E PENSAM DIFERENTE.
NUNCA JULGUE, APENAS COMPREENDA....."

domingo, outubro 02, 2005

À procura do Catai

No século XV os portugueses lançam-se à descoberta do mundo. Em 1419 encontram-se na Madeira, em 1427 nos Açores e em 1487 atingem o cabo da Boa Esperança. Mas o grande desiderato são as terras do Catai. As mesmas que Cristóvão Colombo procura quando descobre a América. Impregnado pelas narrações das viagens de Marco Polo, atinge a ilha de Cuba em 1492 e julga ter alcançado a China. Mais tarde, confirma-se que o Catai e a China são a mesma coisa.

«Assim, a meu ver, o Catai não constitui um reino diferente da China; o grande rei de que fala Polo não é outro senão o rei da China; e por consequência a China é conhecida dos Tártaros e dos Persas, ainda que por outro nome».


Matteo Ricci (sec.XVII)

quinta-feira, setembro 29, 2005

FALA O ROTO DO REMENDADO

“Cada época deixa mais traços dos seus sofrimentos do que da sua felicidade: são os infortúnios que fazem a história”

Johan Hiuzinga (historiador holandês)



Nas últimas semanas, o folhetim sino-joponês deu ao mundo mais algumas páginas das suas infindas e agridoces relações. Em várias cidades chinesas, sobretudo em Shengzen, uma zona económica especial junto a Hong Kong, e em Pequim, chorrilhos de chinos saíram à rua, aparentemente enfurecidos, a gritarem palavras de ordem contra os nipónicos. Durante o cortejo, alguns manifestantes queimaram bandeiras japonesas e arremessaram pedras a edifícios e lojas adstritas àquele país, perante o olhar letárgico da polícia. Entre a berraria ouvia-se, claramente, “[V]iva a China, abaixo os porcos japoneses”. Enquanto isso, as câmaras da comunicação social, para gáudio da tropa-fandanga, registavam todos os momentos, e sempre que a objectiva se direccionava para um determinado ponto, inflamava-se o tropel. Terminado o cortejo, felizes, regressaram todos a casa, sem deixar esconder, no entanto, um sorriso nos lábios.
No centro da polémica, desta vez, está a omissão nos manuais escolares do país vizinho dos massacres cometidos pelas tropas nipónicas, na década de trinta, em território chinês. As preterições das atrocidades cometidas pelos japoneses – só em Nanquim foram mortos cerca entre 50 000 a 300 000 civis chineses – conduziram às manifestações nacionalistas. Será mesmo assim, ou tratou-se de mais uma patranha das autoridades de Pequim? Como é que uma lacuna de um manual de história, da responsabilidade de um simples editor, quando sabemos que existem mais manuais, pode despoletar tamanha algazarra? Por outro lado, sabe-se que estes tipos de manifestações são, essencialmente, perpetradas por estudantes. Acontece que, em algumas das cidades que assistiram ao desvario nacionalista, não há vestígios de universidades por perto. Alem disso, e principalmente, num país em que a policia não deixa “dar um ai”, como é que permite que uma autêntica fanfarra faça tamanho desacato? Não é preciso muito para perceber que o que nos é dado aponta para uma questão política e estratégica muito mais densa. A dimensão e o radicalismo das manifestações – só em Pequim saíram à rua 10 000 manifestantes – assemelharam-se mais a uma encenação orquestrada pela propaganda chinesa do que a um genuíno movimento social.
Em primeiro lugar, é importante perceber que a ascensão económica da República Popular da China (RPC) tem conduzido a um novo reajustamento de forças na Ásia e à pretensão de esta se afirmar como a maior potência da região. Durante décadas este país soube afirmar-se como uma potência geopolítica, mas no campo económico não passou duma nulidade. Foi o Japão, com a conivência americana que desempenhou, após a Segunda Guerra Mundial, um lugar de destaque na Ásia e um papel importante no mundo. Hoje, a China pretende ocupar este lugar.
Se do ponto de vista económico as relações entre a China e o Japão parecem estar bem encaminhadas, no domínio político os diferendos estão a agudizar-se. A recente ambiguidade dos nipónicos no tratamento da questão de Taiwan, não deixou satisfeitas as autoridades de Pequim. Além disso, a continuada disputa pela soberania de pequenas ilhas recheadas de recursos naturais, num momento de febre pelo ouro negro, não parece ajudar. Mas o que mais parece ter fomentado a saída às ruas dos manifestantes chineses, é o esforço que o governo de Tóquio tem vindo a desenvolver com vista a ganhar um assento permanente no Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU). Os japoneses, neste objectivo, têm a seu favor as fortes contribuições para a Organização das Nações Unidas (ONU), as participações em missões de paz e humanitárias e o apoio dos Estados Unidos da América (EUA).
Neste previsível cenário, a China teria uma maior dificuldade de se afirmar como potência exclusiva da Ásia. O que os chineses pretenderam que passasse para a comunidade internacional foi a imagem de um Japão militarista e imperialista, como forma de enfraquecer a posição política e diplomática do país do Sol Nascente. O curioso, é que a RPC, em termos de direitos humanos, não é exemplo para ninguém. Será que o massacre dos monjes tibetanos ou o extermínio cultural dos Uigures, na província de Xinjiang, aparecem nos manuais escolares chineses? A vitimização pelas feridas do passado soa a ridículo, quando a história recente do Império do Meio, para não falar do presente, está abarrotada de momentos infaustos.
Será em Setembro do corrente ano, em Nova Iorque, que finalmente será discutido o alargamento do Conselho de Segurança da ONU. Até lá, pequenos quiproquós, omissões, incorrecções ou incompreensões, por parte dos nipónicos, poderão descambar em novos festivais de fogueiras e pedrada. Apesar de tudo, as tentativas dos chineses em infamar a imagem do Japão, não parecem ser suficientes para travar a presença deste país no principal centro decisório mundial. A partir dessa altura, possivelmente, os chineses perceberão que a Ásia não é só deles, mas de todos os asiáticos.

Jorge Tavares Silva

(Artigo publicado em Maio de 2005 no Jornal de Negócios)