quinta-feira, setembro 07, 2006

A Europa e a China



O Parlamento Europeu está a apreciar um dos piores relatórios que estará em apreço, desde há anos: o relatório Belder sobre as relações China - UE.

Análise de Joel Hasse Ferreira no Diário Económico


Os três pontos principais do artigo:

"1. O conflito interno à União sobre as tarifas a aplicar eventualmente às importações da China e do Vietname de sapatos de couro, não é exactamente, nem apenas, um conflito entre ”proteccionistas” e liberais. Há outras questões em jogo. De interesses económicos bem diversos. Alguns dos Estados membros têm uma significativa produção de calçado, de qualidade diversa e nível de ‘design’ variado, mas cuja competitividade, nos planos europeu e mundial, é afectada pelo ‘dumping’ social e pelas ajudas de Estado praticadas nalguns países asiáticos, como a China e o Vietname. Outros têm essencialmente participações accionistas e até quadros em empresas localizadas nesses Estados asiáticos.

2. Entretanto, o Parlamento Europeu está a apreciar um dos piores relatórios que estará em apreço, desde há anos: o relatório Belder sobre as relações China - União Europeia. E a estreiteza de vistas do relatório é pungente. Não entendendo a largueza dos campos de aplicação, nem a complexidade das relações entre a Europa e a China, produz um conjunto de banalidades de base, de forma superficial, no domínio dos direitos humanos. A Europa e a China merecem mais.

3. Os confrontos quanto ao modelo social europeu emergem frequentemente no terreno social e nos palcos políticos europeus. O que é natural, porque o modelo recobre diferentes variantes e sustenta diversas aplicações. Entretanto, o relatório conjunto do socialista irlandês Proinsias de la Rossa e de Silva Peneda representa um equilibrado compromisso entre as principais forças políticas europeias e gozou de um elevadíssimo apoio na Comissão de Emprego e Assuntos Sociais do Parlamento Europeu. Veremos, no hemiciclo de Estrasburgo, o resultado da deliberação, provavelmente por votação nominal e electrónica Nos momentos decisivos, a cada um a sua responsabilidade."




Subscrevo as ideias do eurodeputado Joel Hasse Ferreira. Parece-me legítimo, para além das questões comerciais, que a Europa defenda o seu projecto social, que durou mais de um século a construir. Sabemos que temos de abdicar de muitos privilégios, mas que modelo querem seguir? O modelo chinês? Será que para podermos competir na economia global temos de abdicar das condições sociais que nos habituámos a ter? Temos de ser nós a pagar por um modelo em que a vida humana tem um valor muito reduzido? Vivemos hoje na desenfreada era da globalização em que se abriram as fronteiras mas não se protegeram o domínio humano, social e ambiental. Tenho visto muita verborreia de economistas a afirmar que a culpa é dos empresários que não se prepararam para o embate concorrencial. Em parte é verdade, mas é muito mais do que isso. Há muitos empresários bem preparados que não conseguem sobreviver devido aos malabarismos e exploração vinda do Oriente. Isto é legítimo? Hoje, apenas a economia está a triunfar em detrimento da realidade humana; no final estaremos todos a viver pior. Sou a favor da globalização, mas não desta globalização que parece que ninguém quer ver...

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