domingo, julho 30, 2006

Gestão à chinesa


A virgínia Trigo concedeu uma interessante entrevista esta semana ao Diário Económico. Confrontada com a questão sobre as possíveis diferenças de gestão entre o Ocidente e o Oriente, respondeu:

"Sem dúvida, embora tenhamos de diferenciar de que Ocidente e de que Oriente estamos a falar. No Japão, por exemplo, valoriza-se os recursos humanos. O Japão seria um país muito pobre se não investisse tanto em recursos humanos. As empresas fazem tudo para os aproveitar: a formação é uma prioridade, o envolvimento dos trabalhadores não é uma figura de retórica, o processo de tomada de decisão é de baixo para cima, os círculos de controlo de qualidade são uma instituição. Trata-se do princípio básico de acreditar nas pessoas e na validade das suas contribuições.

A China é diferente, pela sua dimensão, passado histórico, cultural e diversidade de recursos. É diversa, dinâmica, está sempre a mudar e a experimentar. Há três aspectos que distinguem a gestão chinesa: a aptidão para lidar com paradoxos; a capacidade em lidar com a incerteza; e a gestão familiar, que podemos encontrar no sector privado. Na China as empresas estruturam-se em círculos concêntricos, com o dono da empresa no meio e à sua volta diversos anéis que representam o nível de proximidade dos membros da família (em quem se pode confiar) No anel exterior estarão sempre “os outros”, os que não pertencem à família."

sexta-feira, julho 28, 2006

Memória: Terramoto de Tangshan


O Grande Terramoto de Tangshan (唐山大地震) ocorreu a 28 de Julho de 1976, há precisamente trinta anos, sendo considerado o mais mortífero de todo o século XX. O epicentro deu-se perto da cidade industrial de Tangshan, na província de Hebei, tendo ficado desalojadas cerca de um milhão de pessoas e perecido 242,419, um quarto da população da cidade, de acordo com os dados oficiais. Muitos acartaram mazelas físicas e psicológicas até aos dias de hoje. O terramoto destruiu, ainda, 97% das estruturas das empresas e 56% do equipamento industrial, paralisando a indústria da capital do carvão na China.

Depressa se iniciou um processo de reconstrução que iria arrastar-se pela governação de Deng Xiaoping. Em 1986, dez anos após o desastre, já a cidade possuía 18 km2 totalmente reconstruídos, grande parte destinado a áreas habitacionais. Hoje, a cidade é um exemplo da modernização chinesa, estanto entre as cidades mais produtivas do país.

quinta-feira, julho 27, 2006

Tirar contas a Pyongyang


Banco Delta Asia S.A.R.L. (匯業銀行)

O Banco da China congelou contas bancárias da Coreia do Norte na sequência das investigações dos EUA que envolveram Pyongyang em operações de branqueamento de capitais e falsificação da moeda norte-americana.

Quem o diz é um deputado da oposição sul-coreana, sem que as suas declarações tenham, até ao momento, sido desmentidas pelas autoridades chinesas. O que parece atestar da veracidade das declarações proferidas por Park Jin.

Razão pela qual este deputado do Grande Partido Nacional coreano considera que Pequim acabou, em termos práticos, por adoptar sanções económicas contra a Coreia do Norte, atendendo a que o Banco da China pertence ao Estado chinês, sendo mesmo a segunda maior instituição bancária do país.

"Parece-me que a grande frustração da Coreia do Norte vem do facto de Pyongyang encarar o congelamento das contas na China como sanções", frisou Park Jin, em entrevista ao jornal sul-coreano Munhwa.

"O Banco da China deixou de lidar com a Coreia do Norte desde que os EUA aprofundaram as suas investigações", sublinhou o mesmo deputado, aludindo às alegadas contas secretas que o regime de Kim Jong Il possuía em Macau.

Em Setembro da ano passado, o sistema bancário do território esteve no epicentro de uma polémica internacional, quando Washington proibiu as instituições bancárias norte-americanas de efectuarem qualquer transacção com o Banco Delta Ásia, sediado em Macau, alegando que esta instituição se dedicava a operações de branqueamento de capitais provenientes do contrabando de tabaco, do tráfico de droga e da falsificação de dólares dos Estados Unidos com vista ao financiamento do seu programa nuclear.

Na mesma ocasião, Washington acusou também o Banco Delta Ásia, que está desde então está sob investigação, de proceder à movimentação de fundos pertencentes ao próprio Kim Jong-Il.

"Julgo saber que Pequim e Washington estão cooperar para travar as actividades ilegais da Coreia do Norte", disse Park Jin, adiantando que o Banco da China congelou as contas norte-coreanas no final do ano passado.

Apesar das revelações feitas por Park Jin, nem Pequim, nem Pyongyang emitiram qualquer declarações sobre a matéria.

Fonte: Diário de Notícias

quarta-feira, julho 26, 2006

De Cima da Grande Muralha


Foi apresentado recentemente a obra De Cima da Grande Muralha – Política e Estratégias de Defesa Territorial da República da China, 1949-2010, da autoria do Major Alexandre Carriço.

Os aspectos essenciais para a percepção política global da RPC, tendo por antecena as questões da estratégia militar chinesa, são profundamente tratados neste livro, constituindo um importante contributo para uma melhor caracterização da China, como Estado-Director regional, com projecção global.

O Major Alexandre Carriço combina os aspectos teóricos específicos da ciência militar com elementos de análise da teoria das Relações Internacionais e da Geopolítica, o que resulta numa obra original, de grande fôlego, onde são sistematizados os principais vectores da cultura estratégica chinesa, numa abordagem enquadrada pela evolução doutrinária do Exército Popular de Libertação e pela estratégia política de consolidação do Partido Comunista Chinês.

De Cima da Grande Muralha é, pois, um imprescindível instrumento de estudo para todos os que nos meios político, diplomático, militar e académico acompanham a dinâmica do processo do poder na China, e as suas implicações para o sistema internacional.

segunda-feira, julho 24, 2006

As Filhas do Botânico



Um ambiente tenso, num país onde muitos tabus prevalecem serve de palco ao romance realizado por Sijie Dai.
A morte de Mao Zedong , em 1976, deu mais liberdade ao país, mas permanece a proibitiva rejeição da homosexualidade, tal como aparece neste filme, entre Min Li (Mylène Jampanoï) e Cheng An (Li Xiaoran). Min é uma jovem orfã que um dia parte para estudar com um botânico de renome. É acolhida em casa do professor, que se revela um homem recatado e um pai autoritário. O botânico e a sua filha vivem numa ilha que ele transformou num jardim luxuriante. É no seio desta maravilhosa paisagem natural que Min conhece An, a filha do botânico. Educada com rigidez, e como uma 'flor de estufa', fica imediatamente animada com a oportunidade de finalmente partilhar a sua vida solitária, acolhendo Min com entusiasmo.
Muito rapidamente as jovens tornam-se cúmplices. Mas a sua relação de amizade conhece uma evolução em direcção a uma atracção crescente.
À medida que se enamoram, é dada ao espectador a oportunidade de acompanhar esse amor passo a passo, numa crescente tensão sensual, aumentada pelo perigo da relação, e multiplicada pela fantástica paisagem que as rodeia.
As texturas e os cheiros que emanam das inúmeras e exóticas plantas e árvores do jardim contribuem com um colorido especial para a atmosfera de paixão que vivem.
O sentimento que as une torna-se desconcertante, sensual e também interdito. Incapazes de se separar, Min e An planeiam um perigoso esquema para continuarem a partilhar o mesmo tecto...

Ainda não vi, mas deixa água na boca...

Site Oficial:As Filhas do Botânico

sexta-feira, julho 21, 2006

De Khitan a Catai



Catai era o nome que se deu nos relatos de Marco Polo à região asiática entre o rio Yangtsé e amarelo (na actual China). Ao que parece, a expressão deriva de Khitan, o grupo que dominava o norte da China na altura que Polo a visitou.

Catai (vinda de Khitan) é a expressão italiana,divulgada na Idade Média pela dinâmica dos mercadores italianos, no entanto, sofreu uma evolução epistemológica em diversas línguas:

Uigur: Hyty

Mongol/Mongol clássico: Hyatad(Хятад)/ Kitad

Tártaro (Russia central): Qıtay

Russo: Kitai (Китай)

Latim medieval: Cataya, Kitai

Italiano: Catai

Português: Cataio

Inglês: Cathay

Espanhol: Catay

quinta-feira, julho 20, 2006

Para chinês ver!

Os finais do Século XIX são marcados pela hegemonia, arrogância e racismo britânico, espalhado pelos quatro cantos do planeta. Nessa altura, uma China enfraquecida, sofria os efeitos nefastos das poderosas potências mundiais. As tropas inglesas e francesas entraram em Pequim e, sem dó nem piedade, saquearam tudo o que luzia aos seus olhos.

A demente postura racista britânica, pode ser verificada nas palavras doentes do Primeiro Ministro inglês, Lorde Parlmeston, onde não escapa Portugal:

"Esses governos semicivilizados como o da China, Portugal e América Espanhola, precisam todos de uma limpeza cada oito ou dez anos, para manter a ordem. Os seus cérebros são demasiado ocos para conservaram uma impressão por um período mais longo e de nada serve avisá-los. Poucos se importam com palavras e não só precisam de ver o pau mas também de o sentir nas costas para obedecerem”

terça-feira, julho 18, 2006

A verdadeira coligação



A ONU proferiu uma resolução que proíbe a Coreia do Norte de efectuar novos ensaios com mísseis balísticos.Naturalmente que Pyongyang não aceitou este resultado. Num comunicado emitido pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros, a Coreia do Norte considera que o texto desta resolução resulta da política hostil e agressiva dos EUA face a Pyongyang, ignorando que a posição do Conselho de Segurança contou com o apoio da China e da Rússia, dois dos aliados tradicionais do regime liderado por Kim Jong-Il e membros permanentes daquele órgão das Nações Unidas.

Este comunicado ignora também o teor do apelo da China e dos EUA para que a Coreia do Norte regresse às negociações sobre o seu programa nuclear, suspensas desde Novembro, deixando claro que Pyongyang não aceita as sanções que impedem a transferência de material e de tecnologia que possam ser utilizadas no fabrico de mísseis ou de armas de destruição maciça.

Este apelo conjunto dos EUA e da China foi formulado no final de um encontro entre os presidentes George W. Bush e Hu Jintao, e que se efectuou em paralelo com a Cimeira do G8, agora terminada.

"As duas partes", frisou Hu Jintao numa alusão a Pequim e a Washington, "decidiram continuar os seus esforços para promover as conversações a seis [EUA, China, Rússia, Japão, Coreia do Sul e Coreia do Norte], de forma a que a península coreana possa ser desnuclearizada pacificamente, através do diálogo e das negociações".

Uma mensagem reiterada por George W. Bush, que não deixou de agradecer à China a sua posição no Conselho de Segurança, dado que Pequim poderia ter recorrido ao seu direito de veto para travar a resolução inicialmente proposta pelo Japão, mas que sofreu diversas alterações ao longo dos últimos dias.

A posição chinesa foi também ontem sublinhada pela secretária de Estado dos EUA, Condoleezza Rice, para quem a Coreia do Norte não tem agora outra opção senão voltar a sentar-se à mesa das negociações.

"A partir de agora existe uma verdadeira coligação", frisou, aludindo ao contributo dado pela China.

A Frente Popular do G8: China e Brasil



A China, a quarta maior economia mundial, não faz parte do núcleo duro do G8 (Alemanha, Japão, França, Itália, Reino Unido, Canadá, Estados Unidos e a Rússia), apesar de ter sido convidada como observadora desde as duas cimeiras anteriores – Escócia e França.

Apesar de tudo, a China e o Brasil, aproveitam o banquete de São Peterburgo para acertar agulhas na posição dos países mais pobres. Estes dois países identificaram a dependência petrolífera como a questão mais importante a debater no encontro das maiores economias em vias de desenvolvimento. A crescente procura da China, a instabilidade nas zonas de produção, e a incúria dos países mais industrializados, são as chamadas de atenção.

O Presidente da China, Hu Jintao, e o chefe de Estado brasileiro, Lula da Silva, estiveram reunidos na cidade russa, juntamente com os líderes da Índia, África do Sul e México, para uma cimeira das cinco maiores economias em desenvolvimento.

segunda-feira, julho 17, 2006

Postal Ilustrado



Uma foto magnífica de um camponês a alimentar as suas enguias, nas águas serenas da região lagunar de Zhanggou, na Cidade de Xiantao(仙桃市), pertencente à província de Hubei. Esta região encontra-se entre as que estão referenciadas no projecto de desenvolvimento para as zonas rurais (Fonte: Reuters).

sábado, julho 15, 2006

O renascer da Rota da Seda


O comércio e o investimento estão de novo nos trilhos da Rota da Seda, nomeadamente entre o Médio Oriente e a Ásia. Durante 700 anos, esta rota serviu de ligação do Oriente com o Ocidente, quando a Europa era um centro comercial e cultural para o mundo, servindo de ligação com o continente americano.

Neste momento a Ásia está a receber grandes quantidades de Investimento Directo Estrangeiro (IDE) com o objectivo de construírem infra-estruturas de acesso aos poços de petróleo do Médio Oriente, sobretudo com a crescente escalada no preço do crude nos mercados internacionais devido à crise israelita.

The new Silk Road: Opportunities for Asia and the Gulf

sábado, julho 08, 2006

Mandelson adverte a China



Na recente conferência de comércio entre a China e a União Europeia, em Bruxelas, Peter mandelson, advertiu a China para que abra as portas aos negócios europeus, sobretudo no domínio da banca, dos seguros e da construção, o que não tem acontecido. Além disso, torna-se urgente um reforço no combate ao desrespeito pelos direitos de propriedade intelectual.

Mandelson, que visitou a China no mês passado, refere que este país é uma grande oportunidade, mas tem de esclarecer “as relações entre o estado e o mercado. Por cada quatro contentores carregados em Shenzen com destino à Europa, três regressam vazios.” Este facto não prova a falta de empreendedorismo europeu, mas antes um conjunto de desrespeitos e entraves que fazem a balança pender para o Império do Meio.

sexta-feira, julho 07, 2006

A Fábrica das Sedas


Vencedor do Whitbread para primeiro romance 2005
Finalista do Man Booker 2005
BookSense 2005


Malásia, final dos anos trinta: A história de um homem, contada por três olhares diferentes: o filho, a mulher e o melhor amigo… A busca da verdade sobre o seu carácter, integridade e heroicidade.

A Fábrica das Sedas é a loja de têxteis gerida por Johnny Lim, um camponês de nacionalidade chinesa que vive na Malásia rural, na primeira metade do século vinte. É a estrutura mais imponente da região, e aos olhos dos habitantes do Vale Kinta, Johnny Lim é um herói – um comunista que lutou contra os Japoneses quando estes invadiram o país, disposto a sacrificar a vida pelo bem do seu povo. Mas para Jasper, o filho, Johnny é um vigarista e um colaborador que traiu o povo que fingia servir e a Fábrica das Sedas não passa de uma fachada para os seus negócios ilegais. Centrando-se em Johnny a partir de três perspectivas – a do filho já adulto; da esposa, Snow, a mulher mais bela do Vale Kinta; e do seu melhor e único amigo, um inglês sem eira nem beira chamado Peter Wormwood – o romance revela a dificuldade de conhecer outro ser humano e como as suposições que fazemos dos outros determinam quem somos.

Joseph Conrad, Somerset Maugham e Anthony Burgess moldaram as percepções que temos da Malásia. Agora, com A Fábrica das Sedas, temos uma voz malaia autêntica que traça um novo mapa desta paisagem literária. Através do seu exame de um carácter envolvente, misterioso e grandioso, Tash Aw proporciona-nos um olhar requintadamente escrito para outra cultura num momento de crise.

Apresentação pública do OC



Ontem, mesmo contra a maré do futebol, a apresentação do Observatório da China foi muito bem recebida pelos afícionados do tema. Obrigado a todos pela presença



Investigadores portugueses lançam Observatório da China quarta-feira

Investigadores de História, Relações Internacionais, Economia e outras áreas vão lançar quarta-feira em Lisboa o Observatório d a China, uma "associação multidisciplinar" destinada a dinamizar os estudos chineses em Portugal, considerados "muito incipientes".



EMPRESÁRIOS E INVESTIGADORES QUEREM DINAMIZAR RELAÇÕES

Investigadores portugueses lançam Observatório da China

domingo, julho 02, 2006

Análise do comércio externo chinês


A recente publicação da lista das 200 maiores empresas exportadoras a operar na China, 148 (70%) eram empresas de capital estrangeiro. Enquanto a China, pouco a pouco, passa de uma supremacia na produção de produtos de baixo valor acrescentado para produtos com maior incorporação de tecnologia, vê o seu comércio externo dominado por empresas estrangeiras (este domínio tem sido reclamado pela ala conservadora do PCC: ver "A voz dos conservadores" neste blogue).

Também as importações demonstram igual dependência: das 200 maiores empresas importadoras, 130 são empresas de capital estrangeiro, 4 são empresas privadas chinesas e 60 estatais. No total do comércio externo deste país, em 2005, 831.7 biliões de dólares americanos foram realizados por empresas estrangeiras, ou seja, 58,5% do comércio total chinês. Mais do que nunca, enfatiza-se a pressão para que na China haja um cada vez maior investimento na inovação e desenvolvimento de produtos com independência dos direitos de propriedade intelectual vindos do exterior. As importações de produtos “marcados”, vindos do estrangeiro, e a falta de produção de artigos próprios com incorporação de elevada tecnologia, são as maiores preocupações deste mercado.


Outro dado importante é que nas exportações chinesas, uma grande parte resulta da importação de matérias-primas que entram no país para transformação e exportação (cerca de metade das exportações resultam deste processo). O que pode concluir que o baixo custo do factor produtivo trabalho é o principal estimulador do investimento estrangeiro.