terça-feira, fevereiro 26, 2008

Mangamania e Maolatria


No histórico livro de Alain Peyrefitte, Quand la Chine S´éveillera...le monde tremblerá, disponível num alfarrabista perto de si, encontrei este delicioso episódio:

Um cesto de mangas (pp. 59-61)

A 5 de Agosto de 1968, fez [Mao] mandar ao «grupo de propaganda (…), um cesto de mangas oferecido por uma delegação paquistanesa. Esta oferta, logo interpretada como o testemunho tangível de uma bênção presidencial, provocou uma intensa emoção (…). Reuniram-se logo à volta do presente. Soltaram-se clamores de alegria e cantou-se. Os olhos cheios de lágrimas, gritou-se sem fim e do mais profundo coração: Longa Vida para o nosso chefe bem-amado, ao venerável presidente Mao! (…)

A «boa nova» é imediatamente transmitida pelo telefone a todas as fábricas às quais pertencia a equipa de propaganda (…) Por sua vez, os trabalhadores das unidades às quais pertrenciam os membros da equipa de propaganda manifestaram o desejo de obter pelo menos um desses frutospreciosos. Uma parte das mangas contidas no cestyo foi, portanto, distribuida nas diversas fébricas, comunas rurais, e até à tripulação de um barco. Numa tipografia de Pequim, segundo um outro jornal, foi organizada uma reunião em honra da manga que fora atribuida a essa empresa. Cerca das onze horas da noite, os operários consideraram, por unanimidade, que não se podia admitir que esse fruto apodressesse. Era preciso encontrar uma maneira de o conservar, custasse o que custasse. Nesse caso, poderia ser transmitido às «gerações futuras», de modo que elas «permaneçam eternamente fiéis ao presidente Mao». No dia seguinte, procurou-se febrilmente que processo químico permitiria tratar as mangas. O institutoAgronómico de Pequim e o Museu de História Natural, consultados, confessaram-se incapazes de propor outro processo além de um frasco de formol. Logo, os marceneiros da tipografia, «esquecendo-se até de comer», puseram-se a fabricar uma caixinha «destinada a receber o frasco onde seria colocada a manga». A fotografia do frasco contendo a manga e da caixinha que ia receber o frasco foi espalhada por todo o país.
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[E tudo isto por um cesto de mangas. Sabe-se hoje que o Grande Timoneiro não gostava deste fruto...]







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