quarta-feira, fevereiro 27, 2008

E assim aconteceu...

[Natureza Morta] Sem ser o filme chinês que mais apreciei, é uma obra interessante do ponto de vista visual. Vale, essencialmente, como expressão das trasformações a que a China moderna está envolvida. O mega projecto da Barragem das Três Gargantas é o cenário central desta obra, que fugazmente o realizador aproveitou para denunciar os desrespeitos sociais.

Escreve o The New York Times sobre o filme:

"This may sound like a prescription for social cinema, but Mr. Jia’s interest lies in visual ideas and human behavior, not agendas. Elegantly photographed by Yu Likwai in high-definition digital video, the movie opens with a series of nearly seamless, seemingly contiguous lateral pans across men, women and children congregated in a boat on the Yangtze near the dam. The camera sweeps across the passengers slowly enough so that you can see each person alternately laughing, chattering and in repose. After exploring the formal possibilities of the long shot in his breakthrough film, "Plataform" (2000), Mr. Jia has again started to edge near his characters. In “Still Life” he uses human bodies as moving space, to borrow Michelangelo Antonioni´s peerless phrase, but with enormous tenderness".



terça-feira, fevereiro 26, 2008

Mangamania e Maolatria


No histórico livro de Alain Peyrefitte, Quand la Chine S´éveillera...le monde tremblerá, disponível num alfarrabista perto de si, encontrei este delicioso episódio:

Um cesto de mangas (pp. 59-61)

A 5 de Agosto de 1968, fez [Mao] mandar ao «grupo de propaganda (…), um cesto de mangas oferecido por uma delegação paquistanesa. Esta oferta, logo interpretada como o testemunho tangível de uma bênção presidencial, provocou uma intensa emoção (…). Reuniram-se logo à volta do presente. Soltaram-se clamores de alegria e cantou-se. Os olhos cheios de lágrimas, gritou-se sem fim e do mais profundo coração: Longa Vida para o nosso chefe bem-amado, ao venerável presidente Mao! (…)

A «boa nova» é imediatamente transmitida pelo telefone a todas as fábricas às quais pertencia a equipa de propaganda (…) Por sua vez, os trabalhadores das unidades às quais pertrenciam os membros da equipa de propaganda manifestaram o desejo de obter pelo menos um desses frutospreciosos. Uma parte das mangas contidas no cestyo foi, portanto, distribuida nas diversas fébricas, comunas rurais, e até à tripulação de um barco. Numa tipografia de Pequim, segundo um outro jornal, foi organizada uma reunião em honra da manga que fora atribuida a essa empresa. Cerca das onze horas da noite, os operários consideraram, por unanimidade, que não se podia admitir que esse fruto apodressesse. Era preciso encontrar uma maneira de o conservar, custasse o que custasse. Nesse caso, poderia ser transmitido às «gerações futuras», de modo que elas «permaneçam eternamente fiéis ao presidente Mao». No dia seguinte, procurou-se febrilmente que processo químico permitiria tratar as mangas. O institutoAgronómico de Pequim e o Museu de História Natural, consultados, confessaram-se incapazes de propor outro processo além de um frasco de formol. Logo, os marceneiros da tipografia, «esquecendo-se até de comer», puseram-se a fabricar uma caixinha «destinada a receber o frasco onde seria colocada a manga». A fotografia do frasco contendo a manga e da caixinha que ia receber o frasco foi espalhada por todo o país.
"

[E tudo isto por um cesto de mangas. Sabe-se hoje que o Grande Timoneiro não gostava deste fruto...]







BRIC BY BRIC


Segue hoje o ciclo de cinema chinês no Teatro Aveirense com a apresentação do filme Natureza Morta (Still Life). Em paralelo, pode-se apreciar a exposição de Pedro Amaral, Bric by Bric, inspirada no conceito da Goldman Sachs.

quarta-feira, fevereiro 20, 2008

Aos chineses residentes em Lisboa


Para registar:


Mensagem do Sr। Presidente da Câmara Municipal de Lisboa
à comunidade Chinesa de Lisboa


É com grande regozijo que me dirijo a toda a comunidade chinesa residente em Lisboa, bem como não poderia deixar de ser a todos os seus descendentes, por ocasião da cerimónia de celebração de entrada do novo ano Chinês, para desejar os votos de um feliz e próspero ano novo traduzido num ano cheio de felicidade e saúde para todos.

A celebração desta importante efeméride constituiu um grande êxito para a diáspora residente em Lisboa e no País, sobre a qual não posso deixar de reconhecer o vasto contributo e enaltecer a enorme mais valia que esta representa para a diversidade cultural que tão bem distingue e caracteriza a nossa cidade e cuja integração tem sido pautada por uma indescritível determinação, compromisso, serenidade e vontade de trabalhar admiráveis.


Acredito seriamente que o relacionamento institucional entre Portugal e a China será igualmente reforçado precisamente por via do estreitamento das relações existentes entre os dois países de forma cada vez mais profícua, e que no caso particular de Lisboa se encontram consubstanciadas, expressamente, pelos acordos celebrados com Macau e Pequim.
Não será despiciente afirmar que a China celebra uma nova etapa da sua história vincadamente de internacionalização, cujo expoente máximo culmina na organização dos Jogos Olímpicos agendados para o próximo mês de Agosto deste ano, atitude essa, que sairá com certeza largamente consolidada pela génese de prosperidade, abundância económica e de liderança natural que advêm indubitavelmente dos desígnios do Ano Lunar do Rato.

Resta-me apenas, uma vez mais, reiterar os votos de continuação de um bom ano para toda a comunidade chinesa, numa já secular ligação para com a história, a cultura e tradição de todo um povo com o qual Portugal partilha uma parte da sua própria história.

O Presidente

António Costa

O Grande Bluff Chinês


Já anda por aí!

A China fascina o Ocidente, mas não passa de um dragão de papel

Os tempos mudaram mas os métodos são os mesmos: ontem a China maoísta enganava-nos com a propaganda, hoje Pequim joga e faz bluff. Nos aspectos económico, político e social ou diplomático o Império do Meio tem contornos de um dragão de papel: mil famílias comunistas continuam a governar o país, as liberdades são inexistentes, o Partido joga com as estatísticas económicas, as empresas mais importantes são propriedade do Estado e o «milagre económico» assenta na pirataria, na contrafacção e num Made in China de pacotilha. Um tremendo fosso social separa meia dúzia de ricos de uma massa de pobres…Não, o futuro do Mundo não está nas mãos da China! É uma realidade bem diferente a que nos revela Thierry Wolton: a do discurso ambíguo, do engano e da corrupção. Pela sua perspectiva insolente faz-se luz sobre um país embelezado pelo verniz capitalista.

terça-feira, fevereiro 12, 2008

Leituras

Um retrato curioso da geração pós-Mao, desafiadora e corajosa, cujos sonhos seriam destruídos numa praça pela maquina do poder.