quarta-feira, agosto 06, 2008

Macau, português e sucessão - Entrevista a Carlos Monjardino


É uma decisão fácil diminuir ou cortar subsídios, por exemplo à Escola Portuguesa de Macau ou ao Instituto Português do Oriente?Não, claro que não.

Uma decisão tomada com que critérios?
É tomada com vários critérios. Para já, quando assumimos a nossa parte no Instituto Português do oriente (IPOR) e na Escola Portuguesa de Macau não foi para sempre. Assumimo-la durante uns anos, sobretudo no que diz respeito à Escola. O IPOR é diferente: foi a própria fundação que o criou; está mais balizado e mais controlável. Para a Escola Portuguesa pagávamos uma percentagem. Para responder à sua questão, não é uma decisão de todo fácil, mas não podemos ficar escravos de instituições que se vão prolongando no tempo e que são mais uma responsabilidade do Estado do que de uma fundação privada. Fomos avisando que não podíamos continuar eternamente nesta situação; e fomos dando algumas indicações relativamente ao que se devia fazer, nomeadamente para alterar situações que estavam um bocadinho incrustadas, principalmente na Escola Portuguesa . Esta escola tem todas as vantagens de uma escola privada, sendo pública: os pais pagam propinas que são muito baixas.

Está a sugerir que é preciso um novo modelo para a escola?É evidente que tem de ser uma escola internacional. Não faz qualquer sentido que seja uma escola só portuguesa.

Abandonando a ideia da importância do ensino do português nessa escola?Não, não. Ninguém vai abandonar o ensino do português, mas tem de se ensinar obviamente o inglês e certamente o mandarim. Não podemos andar a fingir que ainda temos a realidade anterior a 1999.

Que utilidade pode ter ainda o português na região?
De acordo com o Estatuto de Macau, ainda tem, e terá que ter, durante algum tempo. A Escola (Portuguesa de Macau) é um pouco diferente do IPOR. A Escola tem jovens que pretendem vir para Portugal fazer o seu curso universitário, filhos de expatriados portugueses que lá estão ou de macaenses que pretendem seguir a carreira por cá. O IPOR tem bastantes alunos mas é, como sabe, um ensino não curricular do português, para determinadas profissões em que o português ainda é preciso em Macau – e digo “ainda” pesando muito bem o que estou a dizer...

Quando o português deixar de ser preciso…Aí, não há nada a fazer.

Os leitores desta entrevista não conseguem ver a expressão que fez agora. Quer verbalizar essa expressão do rosto?
É triste verificar esta situação. No outro dia, alguém estava a fazer um comentário na Assembleia Legislativa de Macau sobre o atraso da publicação das leis e uma das razões dadas foi que tinham de ser passadas para português. Quando as coisas começam a ficar assim, conhecendo eu minimamente aquele mundo, já se estão a preparar razões para que, um dia, o português seja deixado cair.

Diria que em Macau já estão à procura de pretextos para deixar cair o português?Eu acho que já se começa a falar nisso, embora de uma forma pouco clara.

Por parte das autoridades da região ou da República Popular da China?Nas autoridades da região, há sempre um ou outro que fala nisso. Dentro da Assembleia Legislativa, há uma quantidade de facções e, portanto, há sempre alguém que vem falar na língua portuguesa – não gosta dos portugueses ou da língua portuguesa.... Agora, quando isso começa a ser dito de uma maneira mais pública, é preocupante.

São declarações caucionadas pelo governo chinês?Sabe que, às vezes, mesmo para mim é extremamente difícil saber se isto está ou não caucionado pelo governo chinês, mas eu presumo que não estará.

É mais um balão de ensaio?
É uma espécie balão de ensaio, mas é mau que isto aconteça, porque há interesse no ensino e na aprendizagem do português, nomeadamente para chineses que querem ir para países como o Brasil, onde estão aos milhares, ou Angola, onde também há milhares. Portanto, há claramente um mercado, chamemos-lhe assim, mas quando forem criadas as estruturas na China propriamente dita, dentro das grandes cidades, se calhar será menos importante o ensino do português em Macau.

Já pensou num nome que pudesse suceder-lhe na presidência da Fundação Oriente?Já,. Obviamente tenho que pensar nisso, sobretudo porque já fiz 65 anos no ano passado. Já tenho falado com algumas pessoas sobre isso.

Pode partilhar connosco o resultado dessa reflexão?
Não, porque como nada está decidido não me posso pôr a avançar.

Nem sequer avançar um sinal ou um perfil?
Acho que tem de ser alguém que seja, ao mesmo tempo, um razoável gestor e alguém com alguma vocação cultural; sobretudo que apreenda bem tudo o que é actividade cultural.

Será uma solução interna, ou não necessariamente?
Não penso que exista uma solução interna, neste momento. Haverá uma alteração dos outros administradores da Fundação, no final do ano, que vão ser substituídos, por razões de idade – aqui serão soluções internas.

Talvez possam corresponder ao perfil que estava agora a delinear?
Por enquanto não, mas vamos ver. Acho que faria sentido que fosse alguém de fora.

Mas só tem um perfil ou já pensou numa pessoa concreta?
Já pensei numa pessoa em concreto, que exactamente tem esse perfil de que lhe estou a falar.

E que não vai juntar-se à equipa ainda este ano?
Não, ainda não.

Quando é que acha que será o momento certo para o seu sucessor iniciar o “estágio”?Dentro de dois anos.



Para ler a entrevista integral: Diário Económico/PortugalNews

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