segunda-feira, agosto 18, 2008

O neoconfucionismo



A China recuperou a sua paixão pelos ensinamentos
de Confúcio. A responsável? Uma professora universitária de 43 anos que aproximou o filósofo chinês da cultura popular. Unânime? Claro que não. Por Joana Amaral Cardoso para o Jornal Público.

Ela é uma estrela pop à boleia de Confúcio e destronou Harry Potter. Yu Dan, uma professora universitária de Comunicação e Media, goza há dois anos de uma popularidade gigantesca, à escala de toda a China, por causa das suas palestras televisivas e do livro que descodifica e põe ao serviço do quotidiano os Analectos de Confúcio, antologia de textos e máximas do sábio chinês.
Yu Dan tem 43 anos e uma filha, que muitas vezes lhe serve de exemplo nas adaptações que faz dos ensinamentos de Confúcio, com 2500 anos, à vida dos chineses do século XXI. Não é uma perita em Confúcio, insiste, e sim em comunicação de massas. No entanto, tornou-se uma espécie de tele-evangelista do confucionismo depois de a terem contactado, em 2006, no Departamento de Estudos de Cinema e TV da Universidade Normal de Pequim, em busca de alguém que pudesse fazer sete palestras no espaço Lecture Room da CCTV, a televisão estatal chinesa, sobre o filósofo Kong Fuzi, nome chinês do pensador do século VI a.C. (551-479).
No horário nobre do ano - à hora de almoço da semana de feriados nacionais em que os chineses se recolhem em casa - conquistou um povo que está mergulhado em tendências ideológicas e sociais contraditórias e que se interessa cada vez mais por aquilo a que chama a "febre dos estudos nacionais", a vontade de conhecer tudo o que diz respeito à China clássica.
O livro que resultou das palestras, Insights on the Analects (China Pulishing House), vendeu mais de quatro milhões de exemplares em quatro meses - hoje já ultrapassou os dez milhões - retirando Harry Potter do top das livrarias, e atraiu mais atenção na China do que qualquer outro livro publicado desde o Livro Vermelho, de Mao Tsé Tung, diz Daniel A. Bell, professor de filosofia política da Universidade de Tsinghua, em Pequim.
"O programa captou o interesse do público e ressuscitou o glamour da história chinesa e da cultura tradicional", reconhece Yi Zhongtian, professor de Literatura e História na Universidade de Xiamen, no LA Times. Mas o trabalho mais aprofundado deve ficar para os historiadores e não para a psicologia take-away, defende.

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