quarta-feira, maio 24, 2006

David Lampton em Portugal



David Lampton é um dos maiores especialistas americanos em questões sobre a China, tendo uma vasta obra publicada. É director do Departamento de Estudos Chineses do Nixon Center e professor da John Hopkins School of Advanced International Studies. Está em Portugal para participar nos Encontros da Arrábida. Concedeu uma entrevista ao Jornal Público, revelando alguns pontos de vista curiosos:

Se pensar nas três origens do poder - económico, militar e intelectual -, a China representa um desafio intelectual, um desafio económico, mas menos um desafio militar.”

”Não sou dos que pensam que a China se reformou economicamente mas que falhou completamente a reforma política. Houve mudanças políticas na China e, para entendermos melhor em que sentido se move, devemos olhar para o que aconteceu na Coreia do Sul ou em Taiwan. Nos dois casos, vimos as reformas económicas avançar muito mais depressa que as políticas, mas vimos também como foi sempre aumentando a pressão para a liberalização política. Na China, creio que veremos esta mesma pressão - de baixo para cima, de dentro e de fora do Partido Comunista. Isso vai, naturalmente, levar bastante tempo porque estamos a falar de 22 por cento da população mundial.

Na China, como no resto do mundo, nunca podemos afastar a incerteza. Pode dizer-me com segurança o que vai ser a União Europeia em dez ou vinte anos? Claro que quando falamos de 22 por cento da população mundial e de um país que está a mudar a uma tal velocidade, o grau de incerteza é maior. Há riscos. Tem razão quando diz que as desigualdades - entre ricos e pobres, entre as regiões costeiras e o interior, entre as cidades e o campo - ou a corrupção são factores que podem desestabilizar a China. Outra incógnita é saber se as elites políticas, até agora muito capazes, se vão manter unidas ou dividir-se.

Estou claramente do lado integracionista. (...) Se olharmos para as nossas relações com a China, verificamos que é o terceiro parceiro comercial dos EUA e o principal da União Europeia, que a UE, os EUA e o Japão são os seus principais investidores estrangeiros. É uma situação radicalmente diferente e significa que muitos sectores das nossas sociedades têm interesses enormes na preservação das relações com a China. Isto quer dizer que o "containment" não é uma opção, porque nem sequer é praticável. Mas, mais importante ainda do que ser impraticável, é indesejável.
Embora não saibamos como é que a China vai usar o seu novo poder, uma coisa sabemos de certeza: se lhe criarmos um ambiente hostil, ela tenderá a adquirir as capacidades militares para poder lidar com esse ambiente hostil. Ou seja, sabemos que podemos criar uma China hostil, mesmo que não tenhamos a certeza de poder criar uma China amigável. A conclusão é apostar na criação de uma envolvente que encoraje a China a comportar-se de forma consistente com o interesse geral do mundo e com o interesse do Ocidente.

”Para se manter no poder, a liderança chinesa sabe que a resposta é só uma: crescimento económico. E a energia é fundamental para sustentar esse crescimento. Penso que a sua opção estratégica é, por isso, lidar com quem seja preciso para garantir o abastecimento energético. O resto, neste momento, são preocupações secundárias, incluindo a questão da proliferação nuclear.”

China tem uma estratégia em três vectores para Taiwan. O primeiro é dissuadir Taiwan de seguir o caminho da independência com algumas centenas de mísseis apontados à ilha. O segundo é tentar envolver a economia de Taiwan na economia continental. Taiwan já investiu milhões e milhões de dólares na China. O terceiro aspecto é atrair os partidos políticos da oposição para uma posição mais conciliadora.

(sobre um novo Tiananmen) “ É possível, embora creia que a liderança chinesa fará tudo para evitá-lo. Mas as transformações da sociedade não eliminam essa hipótese. A China está a transformar-se de sociedade rural em sociedade urbana a uma velocidade enorme. Está a passar de economia planificada a economia de mercado numa escala que nunca ninguém antes tinha atingido. É irrealista pensar que o regime conseguirá gerir estas transformações sem que ninguém saia ferido. É trágico mas inevitável.”

2 comentários:

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