segunda-feira, maio 29, 2006

Os Crimes do Lago Chinês





O juiz Dee Jen-Djieh é uma personagem tirada da realidade histórica e lendária da China imperial. Viveu entre 630 e 700, durante a dinastia Tang, foi magistrado em várias cidades de província, e finalmente, presidente do Supremo Tribunal de Justiça na capital imperial, cargo para o qual foi escolhido pelo imperador.
Os seus casos, resolvidos com sabedoria, inteligência e argúcia, têm feito as delícias de milhões de leitores em todo o mundo.

O autor:

Robert Hans van Gulik nasceu em Gueldre (Holanda),em 1910, e morreu em Haia com 57 anos. Viveu largos anos em Java, na Indonésia, onde se interessou pelos assuntos asiáticos, sobretudo chineses. Traduziu textos antigos e investigou as religiões da região, essencialmente o Budismo. Em 1935 é-lhe concedido o primeiro trabalho diplomático na embaixada holandesa em Tóquio. Durante o seu serviço no Japão elabora um conjunto de textos policiais centrados na figura do juiz Dee Goong An e baseados num antigo romance do século XVI.

sábado, maio 27, 2006

A Ilha do Desassossego



Mais vale uma sardinha com paz que uma galinha com guerra
Provérbio Popular


A pequena ilha de Taiwan, apelidada de Formosa pelos navegantes portugueses, representa no mapa geopolítico uma anomalia diplomática e política ainda longe de uma solução. Situada a 160 quilómetros da costa sueste da Republica Popular da China (RPC), o pequeno território tem constituído para a China um “osso duro de roer”. Ainda no século XIX, concretamente em 1895, seria anexada ao Japão após o final da Guerra Sino-Japonesa. Os nipónicos iniciaram uma ocupação que duraria até ao final da Segunda Guerra Mundial (Conferência de Postdam - 1945). Entretanto, o reatamento da guerra civil chinesa, que opunha as forças nacionalistas de Chang Kai-Chek e as forças comunistas de Mão Tsé-tung, acabaria com a vitória destes últimos e o refúgio dos primeiros na Formosa, agora desocupada (1949). Taiwan, juntamente com as ilhas costeiras de Quemoy, Matsu e Taschen, permaneceu no controlo dos nacionalistas até aos dias de hoje.
Desta forma, a China ficou dividida em duas, de um lado a República Popular (RPC), comunista, composta por toda a massa continental; do outro, a República da China (RC), de cariz nacionalista, correspondendo a uma pequena parcela de terra. Naturalmente que os chineses, após a ocupação da Formosa pelas forças nacionalistas, pretenderam varrer o pequeno enclave, todavia, os acontecimentos seguintes diluiriam as pretensões beligerantes dos chineses. No ano seguinte a intervenção chinesa na Guerra Civil da Coreia arrastaria para a região os Estados Unidos da América, sob o comando do General Douglas Mac Arthur, empenhados em travar o expansionismo comunista. Para além da colaboração com as forças da Coreia do Sul, os americanos, protegeriam Taiwan de uma possível invasão chinesa. A obsessão americana contra o comunismo votaria a China Popular a um “ostracismo” pela maior parte da comunidade internacional; apenas um pequeno conjunto de países reconheceria legitimidade ao poder de Pequim. Quem no Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) tinha assento permanente era o pequeno enclave nacionalista. Na realidade tratava-se de uma representação “fantoche” nas mãos dos americanos. Nas palavras de Ramón Tamames, este acto foi uma “manifestação, talvez a mais ostensiva, do imperialismo americano, ao não reconhecer a um país de mais de 800 milhões de habitantes [hoje um bilião e trezentos milhões] o papel que lhe correspondia nos destinos do mundo e dentro de um continente asiático de que os E.U.A quiseram ser, como em toda a parte, o único e indiscutido regente.” As relações diplomáticas da China popular reduziam-se à via do Pacto de Varsóvia (1955-1991), constituído por um núcleo de países comunistas com o objectivo de fazer frente à Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN). A partir de 1971, todavia, o cenário altera-se radicalmente. O Presidente americano, Richard Nixon, vai aproveitar o clima instável entre a China comunista e a União Soviética para encetar uma aproximação ao Império do Meio. Numa altura que a União Soviética parecia desenvolver um plano militar contra a China, esta tinha nos Estados Unidos um escudo protector contra os soviéticos. Nixon ao alterar as regras do jogo reequilibra as grandes forças mundiais através da chamada “diplomacia triangular”. Desta forma, num golpe diplomático implacável, Taiwan passa de “bestial a besta”; o Governo de Taipé passa a ser interpretado como ilegal e a Formosa é afastada da ONU.
Hoje, a RPC reitera a soberania sobre a Formosa, como sendo a sua 23ª província, enquanto o governo nacionalista, liderado pelo Partido Democrático Progressista (PDP) de Chen Shui-bian, manifesta intenções pró-independentistas e contra o princípio de “uma só China”. Numa altura em que a União Europeia parece querer desmontar o embargo militar à RPC, importa entender as consequências que daí podem advir. Apesar de tudo, a minha percepção aponta para que não haja uma intervenção militar chinesa. O envolvimento económico internacional do governo chinês deixou para segundo plano os investimentos bélicos, ainda que esteja envolvida num aprimorado programa espacial. Uma intervenção militar, antes de mais, significaria um remexer no cenário geopolítico com inevitáveis consequências diplomáticas. Os Estados Unidos não ficariam, certamente, indiferentes e despoletariam um conflito com contornos difíceis de balizar. Por outro lado, sob o ponto de vista logístico, a intervenção militar obrigaria a uma longa preparação estratégica e a um empenhamento quixotesco por parte dos chineses. Além disso, a capacidade militar aérea e marítima chinesa assemelha-se à capacidade de Taiwan, remetendo a supremacia para questões balísticas. Espera-se, portanto, que as partes encontrem a clarividência suficiente para encontrar uma solução pacífica para a região e para o mundo.

Jorge Tavares Silva

(Publicado no Diário de Aveiro)

quarta-feira, maio 24, 2006

David Lampton em Portugal



David Lampton é um dos maiores especialistas americanos em questões sobre a China, tendo uma vasta obra publicada. É director do Departamento de Estudos Chineses do Nixon Center e professor da John Hopkins School of Advanced International Studies. Está em Portugal para participar nos Encontros da Arrábida. Concedeu uma entrevista ao Jornal Público, revelando alguns pontos de vista curiosos:

Se pensar nas três origens do poder - económico, militar e intelectual -, a China representa um desafio intelectual, um desafio económico, mas menos um desafio militar.”

”Não sou dos que pensam que a China se reformou economicamente mas que falhou completamente a reforma política. Houve mudanças políticas na China e, para entendermos melhor em que sentido se move, devemos olhar para o que aconteceu na Coreia do Sul ou em Taiwan. Nos dois casos, vimos as reformas económicas avançar muito mais depressa que as políticas, mas vimos também como foi sempre aumentando a pressão para a liberalização política. Na China, creio que veremos esta mesma pressão - de baixo para cima, de dentro e de fora do Partido Comunista. Isso vai, naturalmente, levar bastante tempo porque estamos a falar de 22 por cento da população mundial.

Na China, como no resto do mundo, nunca podemos afastar a incerteza. Pode dizer-me com segurança o que vai ser a União Europeia em dez ou vinte anos? Claro que quando falamos de 22 por cento da população mundial e de um país que está a mudar a uma tal velocidade, o grau de incerteza é maior. Há riscos. Tem razão quando diz que as desigualdades - entre ricos e pobres, entre as regiões costeiras e o interior, entre as cidades e o campo - ou a corrupção são factores que podem desestabilizar a China. Outra incógnita é saber se as elites políticas, até agora muito capazes, se vão manter unidas ou dividir-se.

Estou claramente do lado integracionista. (...) Se olharmos para as nossas relações com a China, verificamos que é o terceiro parceiro comercial dos EUA e o principal da União Europeia, que a UE, os EUA e o Japão são os seus principais investidores estrangeiros. É uma situação radicalmente diferente e significa que muitos sectores das nossas sociedades têm interesses enormes na preservação das relações com a China. Isto quer dizer que o "containment" não é uma opção, porque nem sequer é praticável. Mas, mais importante ainda do que ser impraticável, é indesejável.
Embora não saibamos como é que a China vai usar o seu novo poder, uma coisa sabemos de certeza: se lhe criarmos um ambiente hostil, ela tenderá a adquirir as capacidades militares para poder lidar com esse ambiente hostil. Ou seja, sabemos que podemos criar uma China hostil, mesmo que não tenhamos a certeza de poder criar uma China amigável. A conclusão é apostar na criação de uma envolvente que encoraje a China a comportar-se de forma consistente com o interesse geral do mundo e com o interesse do Ocidente.

”Para se manter no poder, a liderança chinesa sabe que a resposta é só uma: crescimento económico. E a energia é fundamental para sustentar esse crescimento. Penso que a sua opção estratégica é, por isso, lidar com quem seja preciso para garantir o abastecimento energético. O resto, neste momento, são preocupações secundárias, incluindo a questão da proliferação nuclear.”

China tem uma estratégia em três vectores para Taiwan. O primeiro é dissuadir Taiwan de seguir o caminho da independência com algumas centenas de mísseis apontados à ilha. O segundo é tentar envolver a economia de Taiwan na economia continental. Taiwan já investiu milhões e milhões de dólares na China. O terceiro aspecto é atrair os partidos políticos da oposição para uma posição mais conciliadora.

(sobre um novo Tiananmen) “ É possível, embora creia que a liderança chinesa fará tudo para evitá-lo. Mas as transformações da sociedade não eliminam essa hipótese. A China está a transformar-se de sociedade rural em sociedade urbana a uma velocidade enorme. Está a passar de economia planificada a economia de mercado numa escala que nunca ninguém antes tinha atingido. É irrealista pensar que o regime conseguirá gerir estas transformações sem que ninguém saia ferido. É trágico mas inevitável.”

terça-feira, maio 23, 2006

Xenofobia em Portugal!



Volto à carga sobre o crescente sentimento anti-chinês que se vai verificando em Portugal. Não consigo encontrar outra designação para este sentimento que não seja XENOFOBIA, ainda por cima numa sociedade habituada a viver fora de portas. Um dos melhores exemplos pode ser encontrado no líder político da Madeira, uma região fortemente emigrante nos Estados Unidos, que não aceita os imigrantes na sua própria terra.

Outro exemplo é João Goulard Medeiros, autor do texto "Alerta Amarelo", que tem circulado em Bragança e na internet (link). Trabalha como freelancer para a imprensa, assume-se como anarquista e faz parte da Federação Europeia de Sindicalismo Alternativo, uma associação fundada em Itália em 2003. Tem sido um acérrimo lutador contra a abertura das lojas de chineses em Portugal. Muitos dos seus argumentos, difundidos na internet, não têm fundamento e quando confrontado com os factos, não os tem conseguido confirmar... Mais palavras para quê!

Apesar de mediocre, podem espreitar:
http://www.blog.comunidades.net/goulart/index.php?op=arquivo&mmes=03&anon=2006

segunda-feira, maio 22, 2006

Entrevista na Radio Macau



Algumas pinceladas sobre, entre outros assuntos, a emergência económica chinesa, numa entrevista na Radio Macau, passem alguns maneirismos linguísticos do entrevistado.

http://portugues.tdm.com.mo/radionews.php

sábado, maio 20, 2006

O Silêncio dos Culpados



Fez esta semana quarenta anos que foi iniciada a Revolução Cultural na China (1966-1976), lançando o país num remoinho político e num estado de violência com repercussões ainda difíceis de contabilizar. A data passou ao lado das autoridades chinesas que parecem querer apagar as "obras" do regime. Os próprios académicos e historiadores foram desencorajados a não participar em seminários no estrangeiro sobre o tema e a expressão “Revolução Cultural” foi retirada dos motores de busca da Internet. Para que este período da história chinesa não seja esquecido e que sirva de reflexão para as sociedades vindouras, deixo um link de um dos melhores sites sobre o tema:

http://www.morningsun.org/

quinta-feira, maio 18, 2006

LA CHINE DU IIIe MILLENAIRE


http://www.geomagazine.fr/

O último número da revista francesa Geo Magazine dedica uma especial atenção à última revolução chinesa, a revolução económica. As mudanças verificadas no país, rápidas e poderosas, sob a alçada do regime comunista, fazem subsistir a par a opulência financeira com a mais extrema miséria.

Trata-se de um documento fotográfico e documental de excepcional qualidade. Vale a pena adquirir!

terça-feira, maio 16, 2006

O adeus à "mulher de aço"


Xie Qihua, de 63 anos, ficou conhecida como a "mulher de aço", uma das pessoas mais poderosas da China. Acaba de anunciar que vai deixar a presidência do gigante siderúrgico Baosteel. O seu percurso pode considerar-se notável, uma vez que conseguiu converter a Baoshan Iron & Steel, uma empresa estatal estagnada, numa multinacional muito competitiva. Xie foi considerada pela revista Fortune como a segunda mulher de negócios não americana mais poderosa do mundo. Tinha à sua responsabilidade cem mil trabalhadores e uma produção de cerca de 21 milhões de toneladas de aço por ano. Deixa a sua missão com o dever bem cumprido...

segunda-feira, maio 15, 2006

Uma loja da Golden Broker em Vila do Conde



Abriu em Vila do Conde, junto à chamada “Chinatown”, uma loja da Golden Broker para oferecer um conjunto de serviços financeiros à comunidade chinesa local, composta por cerca de 2500 cidadãos. A loja está localizada na Varziela, freguesia de Fajozes, concelho de Vila do Conde, sendo – por certo – o primeiro investimento português pensado para atrair investidores chineses, residentes em Portugal. Esta iniciativa vem contrariar a ideia que os chineses vivem em comunidade fechada, bastando-se a si próprios. O resto da notícia pode ser lida no portal de Macau, Ponto Final:

http://www.pontofinalmacau.com/modules.php?op=modload&name=News&file=article&sid=10121

domingo, maio 14, 2006

The Rise of China



Em 1995, William Overholt escreveu The Rise of China - How Economic Reform Is Creating a New Superpower. Na altura a publicação passou algo despercebida, sobretudo em Portugal, onde ninguém abordava a questão chinesa. Hoje, podemos dizer que Overholt estava certo e esta ainda é uma das principais obras que retrata a emergência económica chinesa.

quinta-feira, maio 11, 2006

Crise na restauração chinesa em Portugal



Após a operação de fiscalização a restaurantes chineses no passado mês de Março, efectuada pela Autoridade para a Segurança Alimentar e Económica, de que resultou o encerramento de 14 restaurantes chineses, a procura destes estabelecimentos caiu em flecha. Há casas "às moscas" e paira a possibilidade de se iniciarem despedimentos.

A atitude é de saudar, por razões de saúde pública. No entanto, não se entende porque a medida, denominada de Operação Oriente, apenas considerou os restaurantes chineses. Gostava de saber porque não se iniciam operações do mesmo género aos restaurantes portugueses e que se divulguem na comunicação social. Estou certo que muito haveria para contar...

O Século Chinês



Escrito por Frederico Rampini, um correspondente em Pequim do La Repubblica, este livro oferece um conjunto de impressões sobre o mais populoso país do mundo. Trata-se de um sucesso de vendas, sobretudo em Itália, sendo o mérito do autor, que teve a arte sublime de aplicar à crónica um estilo solto e colorido, escrevendo uma obra que se lê como um romance. O tema é porém um elemento de importância fulcral para criar esta espécie de fascínio que o livro exerce sobre os leitores. Desde o último quarto de século que a China tem vindo a esboçar uma política de abertura, queimando etapas no seu desenvolvimento social, cultural e sobretudo económico, e alterando completamente o equilíbrio geopolítico mundial. Rampini, com a sua visão ocidental e exercitada em focar o que é essencial, é exaustivo: dá-nos todos os elementos necessários (números incluídos) para chegarmos a uma compreensão realista da China actual. Entre as delicias da narrativa destaca-se a descrição das tentativas do Presidente Hu Jintao purificar o passado, um estudo académico sobre os hábitos sexuais da população chinesa, passando pela explosão da internet.

A China como prioridade


ICEP quer China prioritária
para empresários portugueses


Falando na abertura do III Congresso Profissional - Oportunidades de negócios na China, João Marques da Cruz, o Presidente do ICEP, adiantou que “só nos dois primeiros meses do ano” as exportações para a China cresceram 60% contra a alta de 40 por cento registada ao longo de 2005. A China ocupa já o terceiro lugar no comércio externo português fora da União Europeia.

http://www.jtm.com.mo/news/Hoje/09ultima_d01.htm

A "má conduta" chinesa



O Vaticano deverá suspender as negociações para o estabelimento de relações diplomáticas com a RPC, devido à "má conduta" chinesa. Pequim ordenou recentemente um bispo sem o aval da Santa Sé. Segundo Joseph Zen, o cardeal de Hong Kong, a China aniquilou a confiança em si depositada. " Negoceiam e depois colocam as pessoas perante um facto consumado. É verdadeiramente uma má conduta. É verdadeiramente desleal."

As criticas não têm sofrido qualquer efeito nas autoridades chinesas que se preparam para ordenar mais um bispo sem o aval do Vaticano. A China conta com milhões de católicos divididos entre uma Igreja "patriótica", gerida pelo poder, e uma Igreja clandestina fiel ao Vaticano. Desde o inicio do pontificado de Bento XVI que está nas preocupações deste Papa a normalização das relações com a China, quebradas por Pequim no inicío da década de 50.

quarta-feira, maio 10, 2006

Ventos de mudança


Numa atitude original, a China compensou a mãe de uma das vítimas da repressão do movimento a favor da democracia, em 1989. Zhou Guocong, um adolescente de 15 anos, morreu na sequência dos espancamentos pela polícia, tendo o seu corpo sido depois queimado. A mãe da vítima, Tang Deying, recebeu há poucos dias das autoridades chinesas 70 mil yuans, senso a primeira vez que tal acontece. A activista Ding Zilin, cujo filho também tombou no mesmo protesto, não percebe este gesto do Governo chinês. Disse à AP que “[É] inédito, mas devo dizer que esta ajuda de subsistência não equivale a uma compensação. A compensação significaria que o Governo admitiu ter erradamente matado alguém, e não vejo isso neste caso”.