sábado, agosto 12, 2006

Os Paradoxos do Valor


Num recente artigo publicado no DN, o economista João César das Neves, numa altura que diariamente se discute a produção de baixo valor vinda da China, esclarece qual o verdadeiro conceito do VALOR:

“O conceito de valor, base da economia, é uma das ideias mais subtis e traiçoeiras da história da ciência. Foram precisos mais de cem anos, até fins do século XIX, para se definirem os seus verdadeiros contornos e mesmo hoje muitos dos que se dizem economistas continuam sem a apreender. Porque aquilo que dá valor a uma coisa não é o seu volume ou peso, a quantidade de esforço nela incorporado, o montante de capital envolvido ou a elaboração técnica da sua produção. O valor depende exclusivamente da utilidade que o público decide atribuir-lhe, do capricho do consumidor.”


Ver artigo completo: A crise, a China e os paradoxos do valor

segunda-feira, agosto 07, 2006

Política Internacional



O último número da publicação Política Internacional(nº30), na linha da frutuosa produção literária sobre o Império do Meio, tem alguns artigos dedicados à China dos dias de hoje, abrangendo questões tão importantes como a geopolítica, a língua portuguesa e as relações com a Europa. Os autores, já conhecidos nestas andanças, Henrique Morais, Luís Tomé e José Carlos Matias.

sábado, agosto 05, 2006

Postal Ilustrado



Lijiang (丽江市) está situada na província de Yunnan e é uma das cidades históricas mais belas da China, proporcionando ao visitante cenários inimagináveis. Tem um passado de mais de 800 anos, tendo um papel importante nas rotas do comércio de chá. É famosa pelos canais e pelas pontes, sendo muitas vezes denominada por a “Veneza do Oriente”. Desde 1997 que Lijiang, juntamente Dayan, Baisha e Shuhe (na região) estão classificadas pela UNESCO como património mundial.

sexta-feira, agosto 04, 2006

Nathu La



A abertura da fronteira de Nathu La (乃堆拉山口), com a mais alta alfândega do mundo, na fronteira entre a Índia e a China, demonstra o avançar das boas relações entre os dois países. Esteve encerrada 44 anos, após as escaramuças de 1962, devido às pretensões territoriais das duas potências asiáticas. A passagem está situada a 4,310 metros de altitude, tendo sido um importante entreposto na antiga Rota da Seda. A intenção é intensificar o comércio entre os dois países através desta região inóspita e acelerar o desenvolvimento do Tibete (China) e de Sikkim (Índia).

quinta-feira, agosto 03, 2006

Vou à China... Até já!



"O Município de Pequim é enorme e tem mais habitantes do que Portugal, quase 14 milhões, de acordo com o recenseamento de 2001"

Artigo de Opinião de Renato Roldão no Diário Económico.



Deixa algumas dicas para os viajantes/negociantes mais desprevenidos no "planeta mais parecido com a terra": a China.

"É muito importante a primeira impressão que cria no seu interlocutor chinês. Não deve perder a face, deve procurar estabelecer uma “guanxi”, rede de relações pessoais, e deve esforçar-se por aprender algumas palavras de mandarim antes da primeira viagem pois o seu esforço será reconhecido e apreciado. Leve cartões de visita, com o nome em chinês, que não deve arrumar ou tirar do bolso das calças e entregue-os com as duas mãos, inclinando-se ligeiramente para a frente. É um pequeno gesto para a nossa cultura, mas de grande significado para os chineses".

domingo, julho 30, 2006

Gestão à chinesa


A virgínia Trigo concedeu uma interessante entrevista esta semana ao Diário Económico. Confrontada com a questão sobre as possíveis diferenças de gestão entre o Ocidente e o Oriente, respondeu:

"Sem dúvida, embora tenhamos de diferenciar de que Ocidente e de que Oriente estamos a falar. No Japão, por exemplo, valoriza-se os recursos humanos. O Japão seria um país muito pobre se não investisse tanto em recursos humanos. As empresas fazem tudo para os aproveitar: a formação é uma prioridade, o envolvimento dos trabalhadores não é uma figura de retórica, o processo de tomada de decisão é de baixo para cima, os círculos de controlo de qualidade são uma instituição. Trata-se do princípio básico de acreditar nas pessoas e na validade das suas contribuições.

A China é diferente, pela sua dimensão, passado histórico, cultural e diversidade de recursos. É diversa, dinâmica, está sempre a mudar e a experimentar. Há três aspectos que distinguem a gestão chinesa: a aptidão para lidar com paradoxos; a capacidade em lidar com a incerteza; e a gestão familiar, que podemos encontrar no sector privado. Na China as empresas estruturam-se em círculos concêntricos, com o dono da empresa no meio e à sua volta diversos anéis que representam o nível de proximidade dos membros da família (em quem se pode confiar) No anel exterior estarão sempre “os outros”, os que não pertencem à família."

sexta-feira, julho 28, 2006

Memória: Terramoto de Tangshan


O Grande Terramoto de Tangshan (唐山大地震) ocorreu a 28 de Julho de 1976, há precisamente trinta anos, sendo considerado o mais mortífero de todo o século XX. O epicentro deu-se perto da cidade industrial de Tangshan, na província de Hebei, tendo ficado desalojadas cerca de um milhão de pessoas e perecido 242,419, um quarto da população da cidade, de acordo com os dados oficiais. Muitos acartaram mazelas físicas e psicológicas até aos dias de hoje. O terramoto destruiu, ainda, 97% das estruturas das empresas e 56% do equipamento industrial, paralisando a indústria da capital do carvão na China.

Depressa se iniciou um processo de reconstrução que iria arrastar-se pela governação de Deng Xiaoping. Em 1986, dez anos após o desastre, já a cidade possuía 18 km2 totalmente reconstruídos, grande parte destinado a áreas habitacionais. Hoje, a cidade é um exemplo da modernização chinesa, estanto entre as cidades mais produtivas do país.

quinta-feira, julho 27, 2006

Tirar contas a Pyongyang


Banco Delta Asia S.A.R.L. (匯業銀行)

O Banco da China congelou contas bancárias da Coreia do Norte na sequência das investigações dos EUA que envolveram Pyongyang em operações de branqueamento de capitais e falsificação da moeda norte-americana.

Quem o diz é um deputado da oposição sul-coreana, sem que as suas declarações tenham, até ao momento, sido desmentidas pelas autoridades chinesas. O que parece atestar da veracidade das declarações proferidas por Park Jin.

Razão pela qual este deputado do Grande Partido Nacional coreano considera que Pequim acabou, em termos práticos, por adoptar sanções económicas contra a Coreia do Norte, atendendo a que o Banco da China pertence ao Estado chinês, sendo mesmo a segunda maior instituição bancária do país.

"Parece-me que a grande frustração da Coreia do Norte vem do facto de Pyongyang encarar o congelamento das contas na China como sanções", frisou Park Jin, em entrevista ao jornal sul-coreano Munhwa.

"O Banco da China deixou de lidar com a Coreia do Norte desde que os EUA aprofundaram as suas investigações", sublinhou o mesmo deputado, aludindo às alegadas contas secretas que o regime de Kim Jong Il possuía em Macau.

Em Setembro da ano passado, o sistema bancário do território esteve no epicentro de uma polémica internacional, quando Washington proibiu as instituições bancárias norte-americanas de efectuarem qualquer transacção com o Banco Delta Ásia, sediado em Macau, alegando que esta instituição se dedicava a operações de branqueamento de capitais provenientes do contrabando de tabaco, do tráfico de droga e da falsificação de dólares dos Estados Unidos com vista ao financiamento do seu programa nuclear.

Na mesma ocasião, Washington acusou também o Banco Delta Ásia, que está desde então está sob investigação, de proceder à movimentação de fundos pertencentes ao próprio Kim Jong-Il.

"Julgo saber que Pequim e Washington estão cooperar para travar as actividades ilegais da Coreia do Norte", disse Park Jin, adiantando que o Banco da China congelou as contas norte-coreanas no final do ano passado.

Apesar das revelações feitas por Park Jin, nem Pequim, nem Pyongyang emitiram qualquer declarações sobre a matéria.

Fonte: Diário de Notícias

quarta-feira, julho 26, 2006

De Cima da Grande Muralha


Foi apresentado recentemente a obra De Cima da Grande Muralha – Política e Estratégias de Defesa Territorial da República da China, 1949-2010, da autoria do Major Alexandre Carriço.

Os aspectos essenciais para a percepção política global da RPC, tendo por antecena as questões da estratégia militar chinesa, são profundamente tratados neste livro, constituindo um importante contributo para uma melhor caracterização da China, como Estado-Director regional, com projecção global.

O Major Alexandre Carriço combina os aspectos teóricos específicos da ciência militar com elementos de análise da teoria das Relações Internacionais e da Geopolítica, o que resulta numa obra original, de grande fôlego, onde são sistematizados os principais vectores da cultura estratégica chinesa, numa abordagem enquadrada pela evolução doutrinária do Exército Popular de Libertação e pela estratégia política de consolidação do Partido Comunista Chinês.

De Cima da Grande Muralha é, pois, um imprescindível instrumento de estudo para todos os que nos meios político, diplomático, militar e académico acompanham a dinâmica do processo do poder na China, e as suas implicações para o sistema internacional.

segunda-feira, julho 24, 2006

As Filhas do Botânico



Um ambiente tenso, num país onde muitos tabus prevalecem serve de palco ao romance realizado por Sijie Dai.
A morte de Mao Zedong , em 1976, deu mais liberdade ao país, mas permanece a proibitiva rejeição da homosexualidade, tal como aparece neste filme, entre Min Li (Mylène Jampanoï) e Cheng An (Li Xiaoran). Min é uma jovem orfã que um dia parte para estudar com um botânico de renome. É acolhida em casa do professor, que se revela um homem recatado e um pai autoritário. O botânico e a sua filha vivem numa ilha que ele transformou num jardim luxuriante. É no seio desta maravilhosa paisagem natural que Min conhece An, a filha do botânico. Educada com rigidez, e como uma 'flor de estufa', fica imediatamente animada com a oportunidade de finalmente partilhar a sua vida solitária, acolhendo Min com entusiasmo.
Muito rapidamente as jovens tornam-se cúmplices. Mas a sua relação de amizade conhece uma evolução em direcção a uma atracção crescente.
À medida que se enamoram, é dada ao espectador a oportunidade de acompanhar esse amor passo a passo, numa crescente tensão sensual, aumentada pelo perigo da relação, e multiplicada pela fantástica paisagem que as rodeia.
As texturas e os cheiros que emanam das inúmeras e exóticas plantas e árvores do jardim contribuem com um colorido especial para a atmosfera de paixão que vivem.
O sentimento que as une torna-se desconcertante, sensual e também interdito. Incapazes de se separar, Min e An planeiam um perigoso esquema para continuarem a partilhar o mesmo tecto...

Ainda não vi, mas deixa água na boca...

Site Oficial:As Filhas do Botânico

sexta-feira, julho 21, 2006

De Khitan a Catai



Catai era o nome que se deu nos relatos de Marco Polo à região asiática entre o rio Yangtsé e amarelo (na actual China). Ao que parece, a expressão deriva de Khitan, o grupo que dominava o norte da China na altura que Polo a visitou.

Catai (vinda de Khitan) é a expressão italiana,divulgada na Idade Média pela dinâmica dos mercadores italianos, no entanto, sofreu uma evolução epistemológica em diversas línguas:

Uigur: Hyty

Mongol/Mongol clássico: Hyatad(Хятад)/ Kitad

Tártaro (Russia central): Qıtay

Russo: Kitai (Китай)

Latim medieval: Cataya, Kitai

Italiano: Catai

Português: Cataio

Inglês: Cathay

Espanhol: Catay

quinta-feira, julho 20, 2006

Para chinês ver!

Os finais do Século XIX são marcados pela hegemonia, arrogância e racismo britânico, espalhado pelos quatro cantos do planeta. Nessa altura, uma China enfraquecida, sofria os efeitos nefastos das poderosas potências mundiais. As tropas inglesas e francesas entraram em Pequim e, sem dó nem piedade, saquearam tudo o que luzia aos seus olhos.

A demente postura racista britânica, pode ser verificada nas palavras doentes do Primeiro Ministro inglês, Lorde Parlmeston, onde não escapa Portugal:

"Esses governos semicivilizados como o da China, Portugal e América Espanhola, precisam todos de uma limpeza cada oito ou dez anos, para manter a ordem. Os seus cérebros são demasiado ocos para conservaram uma impressão por um período mais longo e de nada serve avisá-los. Poucos se importam com palavras e não só precisam de ver o pau mas também de o sentir nas costas para obedecerem”

terça-feira, julho 18, 2006

A verdadeira coligação



A ONU proferiu uma resolução que proíbe a Coreia do Norte de efectuar novos ensaios com mísseis balísticos.Naturalmente que Pyongyang não aceitou este resultado. Num comunicado emitido pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros, a Coreia do Norte considera que o texto desta resolução resulta da política hostil e agressiva dos EUA face a Pyongyang, ignorando que a posição do Conselho de Segurança contou com o apoio da China e da Rússia, dois dos aliados tradicionais do regime liderado por Kim Jong-Il e membros permanentes daquele órgão das Nações Unidas.

Este comunicado ignora também o teor do apelo da China e dos EUA para que a Coreia do Norte regresse às negociações sobre o seu programa nuclear, suspensas desde Novembro, deixando claro que Pyongyang não aceita as sanções que impedem a transferência de material e de tecnologia que possam ser utilizadas no fabrico de mísseis ou de armas de destruição maciça.

Este apelo conjunto dos EUA e da China foi formulado no final de um encontro entre os presidentes George W. Bush e Hu Jintao, e que se efectuou em paralelo com a Cimeira do G8, agora terminada.

"As duas partes", frisou Hu Jintao numa alusão a Pequim e a Washington, "decidiram continuar os seus esforços para promover as conversações a seis [EUA, China, Rússia, Japão, Coreia do Sul e Coreia do Norte], de forma a que a península coreana possa ser desnuclearizada pacificamente, através do diálogo e das negociações".

Uma mensagem reiterada por George W. Bush, que não deixou de agradecer à China a sua posição no Conselho de Segurança, dado que Pequim poderia ter recorrido ao seu direito de veto para travar a resolução inicialmente proposta pelo Japão, mas que sofreu diversas alterações ao longo dos últimos dias.

A posição chinesa foi também ontem sublinhada pela secretária de Estado dos EUA, Condoleezza Rice, para quem a Coreia do Norte não tem agora outra opção senão voltar a sentar-se à mesa das negociações.

"A partir de agora existe uma verdadeira coligação", frisou, aludindo ao contributo dado pela China.

A Frente Popular do G8: China e Brasil



A China, a quarta maior economia mundial, não faz parte do núcleo duro do G8 (Alemanha, Japão, França, Itália, Reino Unido, Canadá, Estados Unidos e a Rússia), apesar de ter sido convidada como observadora desde as duas cimeiras anteriores – Escócia e França.

Apesar de tudo, a China e o Brasil, aproveitam o banquete de São Peterburgo para acertar agulhas na posição dos países mais pobres. Estes dois países identificaram a dependência petrolífera como a questão mais importante a debater no encontro das maiores economias em vias de desenvolvimento. A crescente procura da China, a instabilidade nas zonas de produção, e a incúria dos países mais industrializados, são as chamadas de atenção.

O Presidente da China, Hu Jintao, e o chefe de Estado brasileiro, Lula da Silva, estiveram reunidos na cidade russa, juntamente com os líderes da Índia, África do Sul e México, para uma cimeira das cinco maiores economias em desenvolvimento.

segunda-feira, julho 17, 2006

Postal Ilustrado



Uma foto magnífica de um camponês a alimentar as suas enguias, nas águas serenas da região lagunar de Zhanggou, na Cidade de Xiantao(仙桃市), pertencente à província de Hubei. Esta região encontra-se entre as que estão referenciadas no projecto de desenvolvimento para as zonas rurais (Fonte: Reuters).

sábado, julho 15, 2006

O renascer da Rota da Seda


O comércio e o investimento estão de novo nos trilhos da Rota da Seda, nomeadamente entre o Médio Oriente e a Ásia. Durante 700 anos, esta rota serviu de ligação do Oriente com o Ocidente, quando a Europa era um centro comercial e cultural para o mundo, servindo de ligação com o continente americano.

Neste momento a Ásia está a receber grandes quantidades de Investimento Directo Estrangeiro (IDE) com o objectivo de construírem infra-estruturas de acesso aos poços de petróleo do Médio Oriente, sobretudo com a crescente escalada no preço do crude nos mercados internacionais devido à crise israelita.

The new Silk Road: Opportunities for Asia and the Gulf

sábado, julho 08, 2006

Mandelson adverte a China



Na recente conferência de comércio entre a China e a União Europeia, em Bruxelas, Peter mandelson, advertiu a China para que abra as portas aos negócios europeus, sobretudo no domínio da banca, dos seguros e da construção, o que não tem acontecido. Além disso, torna-se urgente um reforço no combate ao desrespeito pelos direitos de propriedade intelectual.

Mandelson, que visitou a China no mês passado, refere que este país é uma grande oportunidade, mas tem de esclarecer “as relações entre o estado e o mercado. Por cada quatro contentores carregados em Shenzen com destino à Europa, três regressam vazios.” Este facto não prova a falta de empreendedorismo europeu, mas antes um conjunto de desrespeitos e entraves que fazem a balança pender para o Império do Meio.

sexta-feira, julho 07, 2006

A Fábrica das Sedas


Vencedor do Whitbread para primeiro romance 2005
Finalista do Man Booker 2005
BookSense 2005


Malásia, final dos anos trinta: A história de um homem, contada por três olhares diferentes: o filho, a mulher e o melhor amigo… A busca da verdade sobre o seu carácter, integridade e heroicidade.

A Fábrica das Sedas é a loja de têxteis gerida por Johnny Lim, um camponês de nacionalidade chinesa que vive na Malásia rural, na primeira metade do século vinte. É a estrutura mais imponente da região, e aos olhos dos habitantes do Vale Kinta, Johnny Lim é um herói – um comunista que lutou contra os Japoneses quando estes invadiram o país, disposto a sacrificar a vida pelo bem do seu povo. Mas para Jasper, o filho, Johnny é um vigarista e um colaborador que traiu o povo que fingia servir e a Fábrica das Sedas não passa de uma fachada para os seus negócios ilegais. Centrando-se em Johnny a partir de três perspectivas – a do filho já adulto; da esposa, Snow, a mulher mais bela do Vale Kinta; e do seu melhor e único amigo, um inglês sem eira nem beira chamado Peter Wormwood – o romance revela a dificuldade de conhecer outro ser humano e como as suposições que fazemos dos outros determinam quem somos.

Joseph Conrad, Somerset Maugham e Anthony Burgess moldaram as percepções que temos da Malásia. Agora, com A Fábrica das Sedas, temos uma voz malaia autêntica que traça um novo mapa desta paisagem literária. Através do seu exame de um carácter envolvente, misterioso e grandioso, Tash Aw proporciona-nos um olhar requintadamente escrito para outra cultura num momento de crise.

Apresentação pública do OC



Ontem, mesmo contra a maré do futebol, a apresentação do Observatório da China foi muito bem recebida pelos afícionados do tema. Obrigado a todos pela presença



Investigadores portugueses lançam Observatório da China quarta-feira

Investigadores de História, Relações Internacionais, Economia e outras áreas vão lançar quarta-feira em Lisboa o Observatório d a China, uma "associação multidisciplinar" destinada a dinamizar os estudos chineses em Portugal, considerados "muito incipientes".



EMPRESÁRIOS E INVESTIGADORES QUEREM DINAMIZAR RELAÇÕES

Investigadores portugueses lançam Observatório da China

domingo, julho 02, 2006

Análise do comércio externo chinês


A recente publicação da lista das 200 maiores empresas exportadoras a operar na China, 148 (70%) eram empresas de capital estrangeiro. Enquanto a China, pouco a pouco, passa de uma supremacia na produção de produtos de baixo valor acrescentado para produtos com maior incorporação de tecnologia, vê o seu comércio externo dominado por empresas estrangeiras (este domínio tem sido reclamado pela ala conservadora do PCC: ver "A voz dos conservadores" neste blogue).

Também as importações demonstram igual dependência: das 200 maiores empresas importadoras, 130 são empresas de capital estrangeiro, 4 são empresas privadas chinesas e 60 estatais. No total do comércio externo deste país, em 2005, 831.7 biliões de dólares americanos foram realizados por empresas estrangeiras, ou seja, 58,5% do comércio total chinês. Mais do que nunca, enfatiza-se a pressão para que na China haja um cada vez maior investimento na inovação e desenvolvimento de produtos com independência dos direitos de propriedade intelectual vindos do exterior. As importações de produtos “marcados”, vindos do estrangeiro, e a falta de produção de artigos próprios com incorporação de elevada tecnologia, são as maiores preocupações deste mercado.


Outro dado importante é que nas exportações chinesas, uma grande parte resulta da importação de matérias-primas que entram no país para transformação e exportação (cerca de metade das exportações resultam deste processo). O que pode concluir que o baixo custo do factor produtivo trabalho é o principal estimulador do investimento estrangeiro.

quarta-feira, junho 28, 2006

Observatório da China



Com o objectivo de contribuir para a reflexão, o estudo e a investigação do passado e do presente da China, foi criado o Observatório da China – Associação para a Investigação Multidisciplinar de Estudos Chineses.

Individualmente ou em parceria com estruturas nacionais e internacionais de estudos chineses, pretendemos organizar uma série de actividades, tão descentralizadas quanto possível, que contribuam para a divulgação do conhecimento sobre a China, prioritariamente em Portugal.

Entre as iniciativas a desenvolver, podemos destacar:

• organização de conferências e workshops de sinologia;
• realização e publicação de estudos e relatórios periódicos sobre a China;
• promoção de eventos culturais;
• constituição de uma base de dados de especialistas nacionais em assuntos chineses;
• criação de um fórum de discussão.

A título de exemplo, refira-se que são associados honorários da nossa Associação: Zhang Yunling (Director do Departamento da Ásia-Pacífico da Academia Chinesa das Ciências Sociais), Wang Gungwu (Director do Instituto da Ásia Oriental da Universidade Nacional de Singapura), Jean Philippe-Béja (Sinólogo do CNRS/CERI) e Sebastian Bersick (European Institute of Asian Studies).

São Membros Fundadores, por ordem alfabética:

Carmen Amado Mendes
Dora A. E. Martins
Jorge Tavares Silva
Renato Roldão
Rui d’Ávila Lourido
Rui Pedro Pereira
Zélia Breda

Se estiver interessado em saber mais sobre as actividades do Observatório da China (OC), nomeadamente como se tornar associado, por favor escreva para o seguinte e-mail: geral@observatoriodachina.org

O OC vai ser apresentado publicamente no próximo dia 5 de Julho (quarta-feira). Aqui vai um convite a todos os interessados nos assuntos da China:

domingo, junho 25, 2006

A Cultura Tradicional Chinesa



A cultura tradicional chinesa está num crescendo de popularidade, não só na China como no resto do mundo. Actualmente, cerca de 40 Institutos Confúcio, por promoção do governo chinês, estão implantados em diversas partes do mundo visando promoção das tradições ancestrais.

Quando se fala da “cultura tradicional chinesa”, compreende a cultura académica, incluindo filosofia, história, arqueologia, literatura e linguística. A expressão nasceu no início do século XX, para distinguir a cultura chinesa das culturas ocidentais. Para os cidadãos comuns, a cultura tradicional chinesa está intimamente ligada ao Confucionismo e ao Tauismo, porque têm servido como uma espécie de religião ao longo de milhares de anos. Desde o último século, as tradições cairam em desgraça. A Revolução Cultural (1966-1976) esmagou todas as ideologias e religiões. Durante este período, o Confucionismo e o Tauismo foram criticados e abandonados.

Com o período de reformas e abertura, iniciado nos finais de 1970, a China recupera o interesse pela cultura antiga. Sobretudo a partir da década de 90, a China acorda verdadeiramente no interesse pelo passado. As crianças começam a estudar os livros clássicos, como o Livro dos Analectos, Three-Character Classic, Lao Zi e Zhuang Zi. Em simultâneo, as universidades têm direcionado os seus estudos para a abordagem cultural, enchendo milhares de alunos de entusiasmo com o conhecimento das suas raízes.

Ver um trabalho desenvolvido sobre esta matéria em Beijing Review

sexta-feira, junho 23, 2006

Associação Portugal-China



Parabéns e bem-vinda a Associação para a Cooperação Cultural Portugal-China, que ontem foi apresentada publicamente na Universidade de Aveiro.
Constituída em Maio passado, congrega elementos chineses e portugueses, com o objectivo de promover o intercâmbio cultural entre os dois países.

A iniciativa vai integrar um programa de actividades relacionado com a cultura chinesa. A apresentação contou com a projecção de um filme com imagens da China, a interpretação de músicas chinesas, a demonstração de Tai Chi Chuan e a actuação de um grupo de estudantes portugueses a cantar em Chinês.



O público teve a oportunidade de ouvir melodias antigas chinesas reproduzidas ao piano pela pianista chinesa Shao Ling, docente da Universidade de Aveiro, vencedora de diversos concursos portugueses (interpretação de piano) e que conta no seu currículo com numerosos recitais em Portugal, Irlanda, Holanda, França e Itália.

O evento contou ainda com a presença da cantora Lu Xiao Peng, que domina a técnica tradicional chinesa de canto e que apresentará canções tradicionais de varias zonas da China, bem como do investigador chinês Dr. Xiao Jin ZHong, do Departamento de Engenharia Cerâmica e do Vidro da Universidade de Aveiro, que executou duas peças musicais no tradicional instrumento chinês Erhu. O concerto musical concluiu a participação de um grupo de estudantes portugueses, do Departamento de Línguas e Culturas, que cantou algumas canções chinesas.

Finalmente, foi feita uma breve demonstração de Tai Chi Chuan do estilo Chen, o estilo mais antigo desta arte marcial chinesa, pelo Mestre Xié Yingjian, da 12ª geração do Estilo Chen, discípulo do actual representante deste estilo, o Mestre Chen Xiao Wang.

Relações Internacionais nº10 (IPRI)



A ressurgência da ChinaO Futuro das Relações entre a China e a Europa: Oportunidades e Desafios
Ma Zhengang

A Parceria Estratégica China-UE: Origens e Perspectivas
Xing Hua

A Nova Política da China em ÁfricaRui. P. Pereira

China: Uma Emergência Pacífica?Dora A. E. Martins

A China, os Estados Unidos e o 11 de Setembro
Carlos Gaspar

Relações entre Portugal e a República Popular da China
Bernardo Futscher Pereira

Declaração Conjunta dos Governos da República Portuguesa e da República Popular da China sobre o Reforço das Relações Bilaterais

Comunicado de Imprensa Conjunto entre a República Popular da China e a República Portuguesa por Ocasião da Visita do Presidente da República Portuguesa à China

Segurança Internacional e Proliferação Nuclear
Coreia do Norte, Anarquia e Poder Nuclear
Nuno Santiago de Magalhães

O que faz correr Teerão?
José Luís Alves

Nos 70 Anos da Guerra Civil de Espanha
A Historiografia sobre a Guerra Civil Espanhola no Inicio do Século XXI: Entre a Política e a RenovaçãoHugo Garcia

Carta de Telavive
A Herança de Sharon
Ana Santos Pinto


Recensões

O Monstro de Mao, Carlos Gaspar
Jung Chang e Jon Halliday. Mao. The Unkown Story. Londres, 2005, Cape, 832 páginas.

Os Caminhos da Invasão Chinesa, Francisca Gorjão Henriques
Ted C. Fishman. How the Rise of the Next Superpower Challenges America and the World. Scribner International, 2005, 352 páginas.

A Democracia nas Américas, Carmen Fonseca
Seymour Martin Lipset e Jason M. Lakin. The Democratic Century. University of Oklahoma Press, 2004, 478 páginas.

Guerra sem Intelligence, Pedro A. R. Esteves
Jonh Keegan. Espionagem na Guerra - Conhecer o Inimigo, de Napoleão à Al-Qaeda. Lisboa, Tinta da China, 2006, 475 páginas.

Identidade e Poder. A Superpotência e o Futuro da Estrutura Institucional, Manuel Castro e Almeida
Barry Buzan. The United States and the Great Powers: World Politics in the Twenty-First Century. Polity Press, 2004, 222 páginas.

Relações Internacionais n.º 10

A China no Mundo

'China and Angola Strengthen Bilateral Relationship'

China appears on the horizon of the Arab world

China’s Portuguese Connection

quarta-feira, junho 21, 2006

Angola na mira chinesa



O Primeiro Ministro Chinês, Wen Jiabao, num périplo por varias nações africanas, detentoras de apetitosos recursos naturais, está a dedicar uma atenção especial a Angola. Este país tem um papel fundamental na estratégia de Pequim, tendo muito recentemente suplantado a Arábia Saudita como principal fornecedor de petróleo à China. Por sua vez, Angola, numa estratégia "voltada ao Oriente", aguarda pelos fundos chineses que ajudem a reconstruir o país e a recuperar a economia, após a devastadora guerra civil terminada em 2002. A linha de crédito concedida pelos chineses não tem os mesmos requisitos que outros parceiros, nomeadamente o Fundo Monetário Internacional, o que só facilita a corrida chinesa ao ouro negro.


A águia enfraquecida


A realização da última edição da Organização de Cooperação de Xangai (OCX), parece ter despoletado uma discussão sobre a intencionalidade desta instituição na cena internacional. Alguns defendem que esta pretende afirmar-se como a NATO do Oriente, descambando o mundo numa nova polaridade de forças. Pequim desmente esta ideia veementemente. O que parece certo é que, enquanto os norte-americanos brincam às guerras no Iraque, a China e a Rússia ganham raízes na Ásia Central, para melhor poderem beber nos poços do petróleo e, simultaneamente, afastarem as garras da águia americana na região. A presença da Índia e do Irão, como observadores, na referida organização, para azia de Washington, são o melhor exemplo da postura independente e desafiadora dos países da OCX.

segunda-feira, junho 19, 2006

A Aliança China-Irão



Na próxima quinta-feira a China vai receber o presidente iraniano Mahmoud Ahmadinejad, cujos propósitos passam por tentar estreitar relações com a China, com vista ao reforço da sua posição face aos Estados Unidos.

Nos últimos anos foram realizados grandiosos projectos de cooperação entre os dois países. A China tem no Irão um parceiro estratégico de altíssima importância para a obtenção de recursos energéticos. Em contrapartida, o Irão procura na China uma alegoria diplomática que lhe permita vetar uma eventual tentativa dos americanos em imporem sanções ao seu país, no quadro da Nações Unidas (devido à questão nuclear).

Será que a China e o Irão poderão desenvolver uma aliança para travar os Estados Unidos?

A situação é delicada, mas parece que a China não vai ofender a política externa americana, por tudo o que está em jogo entre os dois países. Parece-me mais que a China irá manter uma política triangular, sem ofender nenhum dos lados, porque “enquanto os cães ladram a caravana passa”, em nome da economia…

sábado, junho 17, 2006

O Complexo de Di


O escritor chinês Dai Sijie, a viver em França desde 1984, é autor do aclamado livro Balzac e a Costureirinha Chinesa – traduzido em 35 países e adaptado ao cinema pelo próprio autor. Agora, em O Complexo de Di, romance vencedor do prémio literário francês Femina (2003), o escritor volta a juntar com mestria a cultura chinesa e francesa.
O livro narra as peripécias de Muo, um tímido chinês, quarentão, que depois de passar dez anos na França a estudar psicanálise, decide voltar à China para salvar da prisão uma antiga colega de universidade, um grande amor da juventude, que fora condenada pelo terrível Juiz Di por divulgar fotos proibidas.

Boa leitura!

segunda-feira, junho 12, 2006

Armas por petróleo



Num relatório hoje publicado pela Amnistia Internacional é feito um retrato negro da China, aparecendo como instigadora de conflitos, da violência criminal e violações dos direitos humanos em países como o Sudão, Nepal, Birmânia e África do Sul. Em jogo está a troca de milhões de dólares de armamento pelo livre acesso a matérias-primas vitais à alimentação do crescimento económico chinês. O relatório aponta também responsabilidades a algumas empresas ocidentais que estão envolvidas na produção de armamento e, naturalmente, a fomentar este tipo de negócios.


A China emerge como uma das maiores exportadoras mundiais de armamento, grande parte encoberto pelas autoridades de Pequim. Há oito anos que a China não publica informação sobre esta matéria, e não envia informação ao Registo de Armas Convencionais da ONU.


O referido relatório aponta os seguintes casos como instigadores de conflito:

• Mais 200 camiões militares chineses, dotados de motores americanos, vendidos ao Sudão, em Agosto de 2005;
• Armamento convencional vendido à Birmânia, incluindo 400 camiões ao exército birmanês, em Agosto de 2005;
• Exportação de 25 000 espingardas chinesas e 18 000 granadas ao Nepal, entre 2005 e inícios de 2006;
• Um aumento do comércio ilícito de pistolas chinesas Norinco.


Com estes dados ficamos a perceber como a avidez chinesa pelos recursos energéticos está a fomentar conflitos armados em muitos países do mundo, sobretudo nas coordenadas asiáticas.

domingo, junho 11, 2006

Tsu-Chu



Com a febre da bola no ar, aqui vai uma pequena história sobre a origem do desporto mais famoso do mundo.

Muitos são os países que reclamam a origem do futebol. Entre eles, claro, está a China. Ao que parece, durante a dinastia Xia (cerca de 2200 a.C.)os guerreiros praticavam um jogo macabro (Tsu-Chu) que lhes servia de treino - divididos em equipas de oito elementos passavam, de pé para pé, a cabeça de um inimigo. O objectivo era passá-la por entre duas estacas espetadas no chão. Quem mais o fizesse, mais pontuava e ganhava o jogo. Belo começo...

sexta-feira, junho 09, 2006

A voz dos conservadores



A abertura económica chinesa é entendida na China como um processo irreversível. Este é, pelo menos, o entendimento da ala reformista do aparelho do partido. No entanto, há um conjunto de novas problemáticas que têm fomentado os argumentos dos conservadores.

Entre essas questões estão: o crescente controlo das empresas estatais por organizações estrangeiras; o aumento das desigualdades sociais; o atraso na entrega de fundos das empresas (nacionais e estrangeiras) ao Estado; os crescentes monopólios criados pelas multinacionais.

Mais do que nunca, é importante que a economia chinesa prossiga no sentido do crescimento e desenvolvimento económico, para evitar acordar os fantasmas adormecidos...

segunda-feira, junho 05, 2006

Tiananmen - 17 anos depois



Hong Kong foi o único local na China onde foram rendidas homenagens às vitimas do massacre de Tiananmen, que ocorreu no dia 4 de Junho de 1989, há precisamente 17 anos. Na altura, os tanques do exército reprimiram brutalmente uma revolta democrática dos estudantes de Pequim, tendo morrido cerca de duas mil pessoas. (talvez mais!)

Milhares de manifestantes acenderam velas no parque Victoria e mantiveram-se em silêncio durante alguns instantes. De seguida, cantaram um hino à democracia, enquanto os organizadores colocaram coroas de flores simbólico dedicado a todos os que tombaram naquele fatídico dia.

Enquanto a China passa mais este aniversário sem permitir qualquer manifestação, algumas regiões semi-autónomas como Macau e Hong Kong vão dando jus ao principio - «um país, dois sistemas»...

domingo, junho 04, 2006

Para negociar na China



Fruto da experiência de muitos anos vividos na China, Virgínia Trigo propõe neste livro uma visão conhecedora sobre os principais aspectos da economia, da política mas, sobretudo, das particularidades culturais dos chineses. Indispensável para quem pretende negociar na China!

Fala o roto do remendado



“Cada época deixa mais traços dos seus sofrimentos do que da sua felicidade: são os infortúnios que fazem a história”

Johan Hiuzinga (historiador holandês)



Nas últimas semanas, o folhetim sino-joponês deu ao mundo mais algumas páginas das suas infindas e agridoces relações. Em várias cidades chinesas, sobretudo em Shengzen, uma zona económica especial junto a Hong Kong, e em Pequim, chorrilhos de chinos saíram à rua, aparentemente enfurecidos, a gritarem palavras de ordem contra os nipónicos. Durante o cortejo, alguns manifestantes queimaram bandeiras japonesas e arremessaram pedras a edifícios e lojas adstritas àquele país, perante o olhar letárgico da polícia. Entre a berraria ouvia-se, claramente, “[V]iva a China, abaixo os porcos japoneses”. Enquanto isso, as câmaras da comunicação social, para gáudio da tropa-fandanga, registavam todos os momentos, e sempre que a objectiva se direccionava para um determinado ponto, inflamava-se o tropel. Terminado o cortejo, felizes, regressaram todos a casa, sem deixar esconder, no entanto, um sorriso nos lábios.
No centro da polémica, desta vez, está a omissão nos manuais escolares do país vizinho dos massacres cometidos pelas tropas nipónicas, na década de trinta, em território chinês. As preterições das atrocidades cometidas pelos japoneses – só em Nanquim foram mortos cerca entre 50 000 a 300 000 civis chineses – conduziram às manifestações nacionalistas. Será mesmo assim, ou tratou-se de mais uma patranha das autoridades de Pequim? Como é que uma lacuna de um manual de história, da responsabilidade de um simples editor, quando sabemos que existem mais manuais, pode despoletar tamanha algazarra? Por outro lado, sabe-se que estes tipos de manifestações são, essencialmente, perpetradas por estudantes. Acontece que, em algumas das cidades que assistiram ao desvario nacionalista, não há vestígios de universidades por perto. Alem disso, e principalmente, num país em que a policia não deixa “dar um ai”, como é que permite que uma autêntica fanfarra faça tamanho desacato? Não é preciso muito para perceber que o que nos é dado aponta para uma questão política e estratégica muito mais densa. A dimensão e o radicalismo das manifestações – só em Pequim saíram à rua 10 000 manifestantes – assemelharam-se mais a uma encenação orquestrada pela propaganda chinesa do que a um genuíno movimento social.
Em primeiro lugar, é importante perceber que a ascensão económica da República Popular da China (RPC) tem conduzido a um novo reajustamento de forças na Ásia e à pretensão de esta se afirmar como a maior potência da região. Durante décadas este país soube afirmar-se como uma potência geopolítica, mas no campo económico não passou duma nulidade. Foi o Japão, com a conivência americana que desempenhou, após a Segunda Guerra Mundial, um lugar de destaque na Ásia e um papel importante no mundo. Hoje, a China pretende ocupar este lugar.
Se do ponto de vista económico as relações entre a China e o Japão parecem estar bem encaminhadas, no domínio político os diferendos estão a agudizar-se. A recente ambiguidade dos nipónicos no tratamento da questão de Taiwan, não deixou satisfeitas as autoridades de Pequim. Além disso, a continuada disputa pela soberania de pequenas ilhas recheadas de recursos naturais, num momento de febre pelo ouro negro, não parece ajudar. Mas o que mais parece ter fomentado a saída às ruas dos manifestantes chineses, é o esforço que o governo de Tóquio tem vindo a desenvolver com vista a ganhar um assento permanente no Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU). Os japoneses, neste objectivo, têm a seu favor as fortes contribuições para a Organização das Nações Unidas (ONU), as participações em missões de paz e humanitárias e o apoio dos Estados Unidos da América (EUA).
Neste previsível cenário, a China teria uma maior dificuldade de se afirmar como potência exclusiva da Ásia. O que os chineses pretenderam que passasse para a comunidade internacional foi a imagem de um Japão militarista e imperialista, como forma de enfraquecer a posição política e diplomática do país do Sol Nascente. O curioso, é que a RPC, em termos de direitos humanos, não é exemplo para ninguém. Será que o massacre dos monjes tibetanos ou o extermínio cultural dos Uigures, na província de Xinjiang, aparecem nos manuais escolares chineses? A vitimização pelas feridas do passado soa a ridículo, quando a história recente do Império do Meio, para não falar do presente, está abarrotada de momentos infaustos.
Será em Setembro do corrente ano, em Nova Iorque, que finalmente será discutido o alargamento do Conselho de Segurança da ONU. Até lá, pequenos quiproquós, omissões, incorrecções ou incompreensões, por parte dos nipónicos, poderão descambar em novos festivais de fogueiras e pedrada. Apesar de tudo, as tentativas dos chineses em infamar a imagem do Japão, não parecem ser suficientes para travar a presença deste país no principal centro decisório mundial. A partir dessa altura, possivelmente, os chineses perceberão que a Ásia não é só deles, mas de todos os asiáticos.

Jorge Tavares Silva
(Artigo publicado em Maio de 2005 no Jornal de Negócios)

sexta-feira, junho 02, 2006

China & EUA


As relações entre os Estados Unidos e a China têm aquecido nos últimos tempos, sobretudo devido à forma como os americanos vêm a emergência do Império do Meio, que se quer afirmar de pacífica. Um dos maiores receios ao hegemonismo americano surge na questão energética. A tentativa da CNOOC de adquirir a Unocal, e toda a agressividade da diplomacia chinesa, têm criado alguma tensão nos americanos, extensiva ao plano militar.

O recente Relatório do Departamento de Defesa Americano, por exemplo, refere que a modernização militar chinesa extravasa as forças necessárias para um eventual conflito em Taiwan, colocando a China com um dimensão militar superior aos domínios regionais.